Minha prezada irmã, meu prezado irmão. A liturgia dos dias desta 23ª semana do tempo comum continua oferecendo como primeira leitura trechos da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. Nesta segunda-feira escutamos o início do capítulo quinto. Neste trecho de sua carta, o apóstolo São Paulo trata de um delicado e grave caso ocorrido na comunidade de Corinto. Ele recebeu a informação do que ocorria. Escute as palavras dele: “Irmãos, é voz geral que está acontecendo, entre vós, um caso de imoralidade; e de imoralidade tal que nem entre os pagãos costuma acontecer: um dentre vós está convivendo com a própria madrasta”.
São Paulo reprova o comportamento da comunidade que não tomara providências diante do fato e promove a excomunhão, afastando da comunidade o homem incestuoso. A expressão é muito forte e precisa ser bem compreendida. São Paulo o afasta e o entrega Satanás. O que quer dizer isso? Aquele homem que estava em pecado grave e escandaloso deve ser afastado da comunidade, pois ele mesmo rompeu com a comunhão. Fora da comunidade de fé, ele está sob o poder de Satanás, até o dia do Senhor, que poderá salvar o espírito dele. Escute novamente:
“Em nome do Senhor Jesus – estando vós e eu espiritualmente reunidos com o poder do Senhor nosso, Jesus – entregamos tal homem a Satanás, para a ruína da carne, a fim de que o espírito seja salvo, no dia do Senhor.” Diante dessa situação na comunidade, São Paulo inclui um apelo a uma vida pura, pela superação das coisas velhas e corrompidas, e pela acolhida da novidade da vida em Jesus Cristo pelo batismo. É preciso jogar fora o fermento da maldade, da perversidade, que corrompe a pessoa e a comunidade. Diz o apóstolo: “Vós vos gloriais sem razão! Acaso ignorais que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o fermento velho, para que sejais uma massa nova, já que deveis ser sem fermento. Pois o nosso cordeiro pascal, Cristo, já está imolado. Assim, celebremos a festa, não com velho fermento, nem com fermento de maldade ou de perversidade, mas com os pães ázimos de pureza e de verdade.”
O apelo a celebrar com pães ázimos de pureza e de verdade é uma forma de convocar a comunidade a seguir com fidelidade a Jesus Cristo, não como uma comunidade de puritanos, mas cada um ciente de suas próprias fraquezas e incoerências, tudo fazer para sua conversão e correção. São Paulo mesmo experimentou a misericórdia de Deus. E sabe que sem o amor e o perdão de Deus não podemos prosseguir no discipulado de Jesus. Ainda assim, nenhum cristão pode se descuidar da fidelidade aos ensinamentos de Nosso Senhor.
+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia