Minha cara irmã, meu caro irmão, continuamos a leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. Ouvimos hoje um texto bastante conhecido e divulgado, de uma beleza ímpar para falar dos dons mais elevados, que devemos desejar, aspirar, pois, na verdade, é possível a todos e é o mais importante de todos os carismas: o amor, a caridade. Tivéssemos todos os outros carismas ou dons, mas faltasse a caridade, nada seríamos. Este texto é conhecido como hino à caridade. Começa com a exortação do apóstolo:
“Irmãos, Aspirai aos dons mais elevados. Eu vou ainda mostrar-vos um caminho incomparavelmente superior.” Na primeira parte, São Paulo recorda alguns carismas que poderiam ser considerados especiais ou mais importantes. Mas não há razão de serem motivo de vaidade para ninguém, pois sem a caridade eles seriam fugazes e vazios. Veja as comparações que ele estabelece: “Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, mas não tivesse caridade, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, mas se não tivesse caridade, eu não seria nada. Se eu gastasse todos os meus bens para sustento dos pobres, se entregasse o meu corpo às chamas, mas não tivesse caridade, isso de nada me serviria.”
Em seguida, São Paulo apresenta uma série de quinze atributos da caridade, dizendo o que ela é e como ela age ou opera e o que ela não é. Como é belo o texto! Vamos escutá-lo novamente: “A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é vaidosa, não se ensoberbece; não faz nada de inconveniente, não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor; não se alegra com a iniquidade, mas regozija-se com a verdade. Suporta tudo, crê tudo, espera tudo, desculpa tudo”.
Depois, São Paulo ainda ensina sobre a perenidade da caridade, do amor. Tudo tende a um fim. Tudo passará. Só o amor não passará, só a caridade não passará. Ele afirma: “A caridade não acabará nunca. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá… O nosso conhecimento é limitado e a nossa profecia é imperfeita. Mas, quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito.”
A própria vida nos revela um amadurecimento, superações, a busca do que é definitivo. “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança. Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face. Agora, conheço apenas de modo imperfeito, mas, então, conhecerei como sou conhecido. Atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade.” Eis-nos diante de um projeto cristão para a vida. Permanecer no amor de Cristo e deixar-se guiar dia-a-dia pela caridade.
+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia