Minha prezada irmã, meu prezado irmão. Damos continuidade à leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. Hoje lemos os primeiros versículos do capítulo quinze, texto que contém um dos mais antigos atos de fé. São Paulo, que anteriormente destacara sua missão de evangelizador, missão da qual não pode abrir mão, pois foi escolhido e chamado pelo Senhor. Nesta parte da carta, o apóstolo trata do evangelho a partir de seu conteúdo central. Mas antes alerta sobre a importância de acolher o evangelho e permanecer fiel, guardando, na memória e na observância, o que foi anunciado. Escute novamente:
“Irmãos, quero lembrar-vos o evangelho que vos preguei e que recebestes, e no qual estais firmes. Por ele sois salvos, se o estais guardando tal qual ele vos foi pregado por mim. De outro modo, teríeis abraçado a fé em vão”. Na sequência, São Paulo utiliza uma espécie de fórmula muito importante para a compreensão do que vem a ser a Tradição. Ele diz: “… transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo tinha recebido”. A Tradição é exatamente a transmissão do que foi recebido. O que os ouvidos escutam e o coração assimila, depois é ensinado para outros, é compartilhado com outros. O que São Paulo recebeu?
O seguinte anúncio, que na Carta é o registro de uma das mais antigas e sintéticas profissões de fé. O fato central é a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Há testemunhas desses acontecimentos. E a fé se baseia no testemunho desses, a começar de Cefas, ou Simão Pedro. São Paulo escreve: “transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu mesmo tinha recebido, a saber: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que, ao terceiro dia, ressuscitou, segundo as Escrituras; e que apareceu a Cefas e, depois, aos Doze. Mais tarde, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma vez. Destes, a maioria ainda vive e alguns já morreram. Depois, apareceu a Tiago e, depois, apareceu aos apóstolos todos juntos”.
E São Paulo se inclui entre aqueles que fizeram a experiência com as aparições do Ressuscitado, dando assim o seu testemunho: “Por último, apareceu também a mim, como a um abortivo”. E reconhece que foi por pura graça de Deus a sua vocação. Ele que outrora perseguia os cristãos tornou-se apóstolo, certo de que não por méritos próprios, mas por pura graça de Deus. Voltemos ao texto para perceber a força das expressões paulinas: “Na verdade, eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. É pela graça de Deus que eu sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril: a prova é que tenho trabalhado mais do que os outros apóstolos – não propriamente eu, mas a graça de Deus comigo. É isso, em resumo, o que eu e eles temos pregado e é isso o que crestes.” Mais uma vez repetimos: Cristo ressuscitado é o fundamento de nossa fé.
+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia