Meu irmão, minha irmã. Neste dia nove de novembro, a Igreja inteira celebra a dedicação da Basílica Lateranense ou Basílica do Latrão. É, na verdade, a Igreja Catedral de Roma. É considerada a mãe de todas as Igrejas de Roma e do mundo. Para esta festa há orações e leituras próprias. A primeira leitura é tomada do livro da Profecia de Ezequiel. Trata-se de uma obra profética escrita durante o exílio babilônico, centrada nas visões e oráculos do profeta Ezequiel. Sua mensagem alterna entre juízo e esperança, destacando a santidade de Deus e a renovação futura de Israel.
Um dos temas centrais do livro da Profecia de Ezequiel é a restauração do povo e do Templo, simbolizada em visões extraordinárias, como a do capítulo 47. No texto de hoje, Ezequiel é conduzido a uma visão onde vê água fluindo do Templo. Essa água que jorra da presença de Deus simboliza a vida e a purificação. O Templo, centro da presença divina, torna-se a fonte de restauração para o povo de Israel e para toda a criação. A água representa o poder regenerador de Deus, fluindo para transformar a terra árida.
O profeta é informado que as águas descerão para o deserto e para o Mar Morto, onde renovarão até os lugares mais inóspitos. O Mar Morto, símbolo de morte e estagnação, será curado e revitalizado. Essa transformação destaca o poder de Deus de transformar até mesmo o que parece irremediavelmente perdido, trazendo vida onde havia apenas morte. Na visão do profeta, às margens desse rio, crescem árvores frutíferas que produzem frutos e folhas continuamente, com propriedades curativas. As árvores representam a abundância e a vida plena que flui da presença de Deus. Os frutos e as folhas curativas apontam para a restauração não apenas física, mas espiritual, que abrange a totalidade da vida humana.
Este texto de Ezequiel simboliza a ação renovadora de Deus, que transforma a criação e o povo. O rio que flui do Templo representa o poder divino de restaurar o que está morto e trazer vida em abundância. A água, as árvores e os frutos são imagens da plenitude da bênção divina que cura e sustenta o povo e a criação.
Na interpretação cristã, a visão de Ezequiel sobre o rio que flui do Templo (Ez 47) é entendida como uma prefiguração de Cristo, o Novo Templo. Assim como a água que jorra do Templo simboliza a vida e a renovação, o sangue e a água que fluíram do lado de Cristo na cruz (Jo 19,34) representam a vida nova oferecida pela sua morte redentora. Cristo é a fonte da graça, e o fluxo de água e sangue aponta para os sacramentos da Eucaristia e do Batismo, pelos quais os cristãos são purificados e vivificados. A imagem do rio que dá vida às terras áridas reflete a missão de Cristo de renovar toda a criação, trazendo cura e salvação ao mundo.
+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia