Minha cara irmã, meu caro irmão. Celebramos hoje o domingo da solenidade de Jesus Cristo, rei do universo. No Brasil se celebra hoje o dia nacional dos leigos e leigas. A primeira leitura é tomada do livro de Daniel. A visão de Daniel 7,13-14 destaca a figura de “um como filho do homem” que é apresentado diante de Deus, chamado aqui de “Ancião de Dias”. Esta profecia é central no livro de Daniel, revelando o estabelecimento de um reino eterno e universal, diferente dos reinos terrenos que são efêmeros e marcados pela corrupção.
O “filho do homem” é descrito como alguém que vem “nas nuvens do céu,” uma imagem que representa autoridade divina e sugere sua origem celestial. Essa expressão, na tradição judaica e posteriormente na tradição cristã, indica uma figura messiânica dotada de poder especial concedido diretamente por Deus. Nos versículos 13-14, o “filho do homem” recebe “domínio, glória e um reino,” onde “todos os povos, nações e línguas o servem.” Este reino é eterno e não pode ser destruído, diferentemente dos reinos terrenos anteriores na visão de Daniel, que são simbolizados por animais e associados à violência e à opressão. O caráter indestrutível do reino do “filho do homem” destaca a soberania absoluta de Deus e seu compromisso com um reino de paz e justiça que se estenderá a toda a criação.
No contexto cristão, Jesus se identifica como o “Filho do Homem” nos evangelhos, associando a si próprio essa profecia e revelando-se como o cumprimento dessa esperança messiânica. Assim, a interpretação cristã vê neste texto de Daniel 7,13-14 uma prefiguração da ascensão e glorificação de Cristo e da consumação de seu reino sobre toda a criação na parusia. O texto aponta para o triunfo definitivo de Deus sobre os poderes do mal e o estabelecimento de um reino de paz, justiça e comunhão plena com Ele.
Para a vida cristã atual, o texto hoje proclamado de Daniel 7,13-14 oferece profundas luzes e esperança. A visão de um reino eterno que sobrevive a todas as forças corruptíveis e transitórias dos reinos terrenos nos recorda que nossa fé está ancorada na soberania de Deus e na promessa de Cristo. Em um mundo onde poderes e autoridades humanas frequentemente falham, somos chamados a centrar nossa confiança e esperança em Cristo, cujo reino é fundamentado na justiça, na paz e na misericórdia.
A figura do "filho do homem" nos desafia a viver à luz desse reino eterno, atuando como agentes de paz e justiça no presente, e mantendo a visão de um futuro em que Cristo será plenamente reconhecido como Senhor e Rei. Assim, somos encorajados a testemunhar essa esperança no cotidiano, contribuindo para que os valores do Reino já possam ser experimentados na realidade atual, em preparação para o reinado final e eterno de Deus.
+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia