Minha prezada irmã, meu prezado irmão. NO caminho do Advento celebramos a solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Temos orações e leituras próprias. E a primeira leitura é tomada do livro do Gênesis, capítulo 3, que faz parte do segundo relato da criação que narra a queda dos primeiros seres humanos, Adão e Eva. O texto mostra as consequências da desobediência a Deus ao mesmo tempo em que descreve o primeiro anúncio de salvação (chamado protoevangelho ou primeiro evangelho). Os versículos 9-15.20 estão inseridos no diálogo de Deus com o casal após o pecado, apresentando a realidade das consequências do afastamento de Deus e a promessa de redenção. Este texto é fundamental para compreender a teologia do pecado original e o início do plano divino de salvação.
O texto de hoje começa com a primeira interrogação que encontramos na Bíblia. Deus chama por Adão: “Onde estás?” Este chamado não busca apenas localização (Deus é onisciente, tudo sabe, tudo conhece), mas é uma interpelação espiritual, revelando a distância criada pelo pecado. Deus age como um Pai que busca restaurar o relacionamento rompido, oferecendo a oportunidade para que o ser humano reconheça sua falha. Adão e Eva confessam sua vergonha e medo, consequências imediatas do pecado. A tentativa de culpar o outro – Adão culpando Eva e esta culpando a serpente – reflete a desordem introduzida na criação. A harmonia inicial foi substituída por divisão e acusação. Deus, porém, não abandona sua criação, mas começa a restabelecer a ordem através de Sua palavra. A maldição da serpente representa o juízo de Deus sobre o agente do mal. A serpente, símbolo de Satanás (cf. Ap 12,9) do pecado e da tentação, é condenada a rastejar e comer pó, indicando humilhação total. Mais do que uma punição física, este versículo expressa a derrota do poder do mal perante o Criador.
No v. 15 está a primeira promessa de redenção, o protoevangelho, uma boa notícia em meio à tristeza da desobediência. A “inimizade” entre a serpente e a mulher, e entre a descendência de ambos, aponta para a luta contínua entre o bem e o mal. A expressão “esta [descendência da mulher] te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” é entendida na tradição cristã como uma profecia messiânica, anunciando Cristo como aquele que esmagará definitivamente o mal, mesmo sofrendo na cruz. Maria, a “nova Eva”, desempenha um papel especial nesta vitória, com sua obediência contrastando com a desobediência original.
No final do texto de hoje Adão nomeia sua esposa “Eva”, que significa “mãe de todos os viventes”. Apesar do pecado, a vida continua. Este gesto reflete a esperança na promessa de Deus de que a descendência virá, trazendo redenção e vida nova. A fertilidade de Eva contrasta com a morte espiritual introduzida pelo pecado, sublinhando o plano de Deus de restauração.
Assim conclui-se que o texto de Gênesis proclamado na liturgia da Solenidade da Imaculada Conceição mostra o impacto devastador do pecado, mas também destaca a misericórdia e a fidelidade de Deus. A promessa de um redentor aponta para Jesus Cristo, que triunfa sobre o pecado e a morte. Para a vida cristã, este texto é um convite à conversão, confiança na promessa divina e esperança na vitória definitiva do bem. Ele lembra que, mesmo no pecado, Deus nos busca, oferecendo-nos restauração e vida. Nossos corações vislumbram o amor de Deus manifestado na realização da promessa de salvação.