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O martírio do diálogo

O martírio do diálogo

É inconteste que vivemos um tempo de polarizações e marcado por discussões acirradas, passionais e irracionais. O contexto político-eleitoral é

É inconteste que vivemos um tempo de polarizações e marcado por discussões acirradas, passionais e irracionais. O contexto político-eleitoral é como um querosene atiçado ao fogo e revela faces terríveis da humanidade e, de maneira muito próxima, daqueles que convivem conosco.

 

É preciso, portanto, buscar, constantemente e com todas as forças, pressupostos para o diálogo. Mas dialogar com quem e por quê? Talvez muitos se perguntem sobre a eficácia dessa prática e tomem a decisão de não dialogar a partir de motivações do tipo: “não vale a pena”, “melhor deixar pra lá”, “não vai adiantar nada”. Numa sociedade plural, não há outro caminho que não o diálogo para aparar as arestas e ultrapassar consensos. Nem sempre será o caminho mais curto, mas será o caminho mais eficaz para chegar a resultados que visem ao bem comum.   

 

Em geral, buscamos o diálogo com aqueles que pensam iguais a nós ou que têm aproximações de ideias e discursos. Com quem apresenta qualquer divergência, raramente o buscamos e, muito menos, chegamos a efetivá-lo. Resumimos essa árdua tarefa ao que o Papa Francisco, evocando o filósofo Abraham Kaplan na mensagem para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, chama de duólogo, ou seja, um monólogo a duas vozes. Trata-se de esperar que o outro acabe de falar para emitir a opinião, muitas vezes em tom altivo e agressivo, e não se chega a um entendimento. 

 

O Papa alerta, na Fratelli Tutti, que “os monólogos não empenham a ninguém, a ponto de os seus conteúdos aparecerem, não raro, oportunistas e contraditórios” (FT, 200). A propósito, nesta encíclica, o pontífice dedica um capítulo para refletir sobre “Diálogo e Amizade Social”. Ao longo do texto, a palavra diálogo aparece 47 vezes e o verbo dialogar, pelo menos, cinco vezes. Ele se revela, portanto, como condição para uma sociedade fraterna e uma necessidade existencial, como ensina Paulo Freire.

 

Novamente, podemos nos perguntar: dialogar com quem e por quê? É preciso buscar diálogo com todos, visando à aprendizagem, até mesmo nas diferenças. O diálogo de forma autêntica, aberta e humilde, a partir de um encontro radicado no respeito ao ponto de vista do outro, “aceitando como possível que contenha convicções ou interesses legítimos” (FT, 203) e que afaste a autossuficiência. Dialogar porque precisamos fincar os pés em nossa realidade, assumindo nossa condição humana, e usar as pedras que atiramos nas brigas para construir pontes. Eu creio no diálogo, fruto da escuta e da paciência, do respeito e da sinceridade, tecido pelos “heróis do futuro” (perdoe-me, Papa Francisco, mas penso que são mais do presente do que do futuro), capazes de romper com a lógica do mal e promover o bem comum.

 

 

Marcus Tullius
Mestrando em Comunicação Social pela PUC Minas, coordenador-geral da Pascom Brasil e membro do Grupo de Reflexão em Comunicação da CNBB.

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