Neste ano de 2025, a Arquidiocese de Goiânia recorda os 40 anos da morte de Dom Fernando Gomes dos Santos, primeiro arcebispo metropolitano, falecido em 1º de junho de 1985. Nascido em 4 de abril de 1910, em Patos (PB), Dom Fernando foi nomeado arcebispo de Goiânia pelo Papa Pio XII em março de 1957, tomando posse em junho do mesmo ano. Sua trajetória foi marcada pelo compromisso com a fé, a justiça social e o desenvolvimento humano integral em Goiás.

Dom Fernando teve papel de destaque na Igreja do Brasil ao participar, em 1952, da fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Já como arcebispo em Goiânia, lançou em 1957 a Revista da Arquidiocese, e no ano seguinte, adquiriu a Rádio Difusora, com o objetivo de expandir a atuação pastoral e implementar o Movimento de Educação de Base (MEB) por meio de aulas radiofônicas. Fundou a Sociedade Goiana de Cultura, iniciativa que deu origem à Universidade Católica de Goiás, fundada em 1959 com o ideal de colocar o “conhecimento a serviço da vida”.

Ainda em 1959, iniciou uma experiência pioneira de reforma agrária na Fazenda Conceição, em Corumbá de Goiás, e Entre 1962 e 1965, Dom Fernando participou ativamente das quatro sessões do Concílio Vaticano II, onde realizou seis intervenções (duas orais e quatro escritas). Defensor da colegialidade episcopal, interveio sobre o papel dos bispos e criticou publicamente o esquema inicial sobre o sacerdócio. Sua fala, que sugeria um novo texto para o documento Presbyterorum Ordinis, foi ovacionada pelos padres conciliares e repercutiu na imprensa internacional, contribuindo para o prolongamento do Concílio com mais uma sessão.

A recepção do Concílio foi paulatina e gradativa na Arquidiocese de Goiânia. Dom Fernando elaborou diretrizes pastorais inspiradas nos documentos conciliares, buscando uma Igreja mais próxima do povo e comprometida com a realidade social. Seu trabalho também se destacou pelas obras físicas e institucionais, como a conclusão da Catedral Metropolitana, a construção do Seminário Santa Cruz, do prédio da Cúria Metropolitana, do Secretariado de Pastoral (SPAR) e do Centro de Treinamento de Líderes (CTL).

Com o crescimento da população em Goiás, Dom Fernando atuou na criação de novas dioceses, como Anápolis, Itumbiara e Ipameri, todas erigidas em 1966, além das prelazias de Rubiataba e Miracema do Tocantins.

Figura ativa na defesa dos direitos humanos, Dom Fernando confrontou o regime militar brasileiro. Em 1968, teve sua catedral invadida por proteger os estudantes que protestavam contra o regime militar. No mesmo ano, participou como delegado da II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Medellín, evento que fortaleceu a opção preferencial pelos pobres na Igreja da América Latina.

Em 1º de novembro de 1982, Dom Fernando celebrou seu Jubileu de Ouro Sacerdotal e os 25 anos da Arquidiocese de Goiânia, reforçando sua missão como pastor fiel ao Evangelho, defensor dos pobres e da justiça social. Seu lema, gravado na lápide de sua sepultura na Catedral Metropolitana de Goiânia, resume sua missão: “Sem violência e sem medo”.

Quarenta anos após sua páscoa, o legado de Dom Fernando permanece vivo na memória da Igreja em Goiás. Seu testemunho continua a inspirar novas gerações de cristãos no seguimento de Jesus Cristo com coragem, profetismo e fidelidade.

Pe. Maximiliano Gonçalves da Costa

Vigário Episcopal para Evangelização