Na Semana da Pátria, emerge a lembrança da obra artística de Pedro Américo: O grito do Ipiranga. Uma pintura que enaltece a independência do Brasil, alcançada com a espada em punho e a liderança de Dom Pedro I. O artista inseriu, à margem dos soldados em seus cavalos, três personagens do povo: um homem conduzindo um carro de bois, com olhar de surpresa; logo atrás, outro montado a cavalo, expectador do grito da independência; e um homem negro conduzindo um jumento, de costas a um Grito que não o libertava da escravidão.
Somos convidados, cidadãos e cristãos, a escutar os gritos de hoje, dos excluídos, dos ignorados ou emudecidos. Há gritos pela paz na Faixa de Gaza e nos países em guerra; gritos por democracia, frente às ameaças de ditaduras e golpes políticos; por justiça fiscal, em defesa da equidade distributiva nos impostos; gritos das vítimas do feminicídio; de proteção contra o crime organizado; por políticas públicas e por terra, teto e trabalho; pela reforma agrária e urbana e pela educação pública e de qualidade; gritos pela ética e contra a corrupção, pela consciência política e contra a venda de votos.
Há gritos contra a dependência química e de jogos; contra as polarizações políticas e fundamentalismos religiosos; contra o racismo, a aporofobia, o etarismo, a homofobia, os preconceitos e a violência; contra a adultização das crianças; pelo direito à vida desde a sua concepção até o seu declínio natural; gritos de pessoas com deficiência clamando por acessibilidade.
Há gritos contra a extinção de espécies da flora e da fauna e pela proteção dos animais; pela proteção das nascentes de água; contra as queimadas e as matrizes energéticas poluidoras; contra os desmatamentos; em defesa da Ecologia Integral e dos biomas.
Há incontáveis gritos, encharcados de sangue, lágrimas, desespero… tão fortes que chegam aos céus e ressoam no coração de Deus que enxerga a opressão do seu povo, ouve o seu grito de aflição e conhece os seus sofrimentos (Ex 3, 7). Jesus, como o Pai, também, escutou os clamores de seu povo.
No dia 7 de setembro, haverá o 31º Grito dos Excluídos, na Praça do Trabalhador, em Goiânia, fruto da articulação do Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania, com a participação de sindicatos, igrejas e movimentos sociais e populares. O lema é “Cuidar da casa comum e da democracia é luta de todo dia”. Junto ao Grito, também se promove o Plebiscito Popular, para consultar a população sobre o fim da escala de trabalho 6×1 e sobre a justiça fiscal, com isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, e aumento de cobrança de impostos para quem recebe mais de R$ 50 mil por mês.
Com o Grito dos Excluídos e Excluídas, celebramos um amplo Grito de Independência. Pela justiça social, pela justiça fiscal e pela justiça climática!
Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo de Goiânia e 1º vice-presidente da CNBB