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Dom Armando Bucciol aprofunda o sentido da liturgia no Congresso Vaticano II

Dom Armando Bucciol aprofunda o sentido da liturgia no Congresso Vaticano II

A segunda noite de conferências do Congresso Internacional Concílio Vaticano II: 60 anos a caminho da esperança.

A segunda noite de conferências do Congresso Internacional Concílio Vaticano II: 60 anos a caminho da esperança, realizada nesta terça-feira, 9 de dezembro, na Cidade da Comunhão, foi marcada por uma reflexão sobre a experiência litúrgica como presença viva de Cristo e expressão da identidade da Igreja.

A programação noturna teve início com missa presidida pelo bispo diocesano de Anápolis, Dom Waldemar Passini Dalbello, seguida de apresentação cultural e da conferência Liturgia: presença de Cristo, celebração da Igreja, proferida pelo bispo emérito de Livramento (Bahia), Dom Armando Bucciol.

Na homilia, inspirada no evangelho da ovelha reencontrada (Mt 18, 12-14) e no decreto Ad Gentes, Dom Waldemar lembrou que Deus é movido por uma alegria que nasce do reencontro. Segundo  o bispo, “é assim que Deus nos quer: mais felizes. Esta é a ótica da missão: a Igreja é missionária, ela existe pra evangelizar”.

O bispo ressaltou que o pastor da parábola não age por obrigação, mas por amor: “ele é constrangido a buscá-la; quer o bem da ovelha; ele não consegue ser indiferente”. Ao refletir sobre essa imagem, relacionou-a à missão de Jesus: “o Verbo vem ao nosso encontro, se faz homem e traz consigo o cuidado do Pai por cada pessoa humana”.

Ao relacionar o texto bíblico com a proposta conciliar, afirmou que Vaticano II resgatou a dignidade de cada pessoa humana: “o concílio diz: não é tempo de autoritarismo, é tempo de proximidade, acolhida, escuta”. Também recordou o Papa Francisco, cuja espiritualidade da ternura expressa “o coração terno de Deus que transborda no coração de todos os filhos da Igreja”.

Dom Waldemar citou ainda reflexões de Bento XVI sobre os “desertos contemporâneos”: pobreza, solidão, escuridão espiritual e perda do sentido da dignidade humana. E lembrou o profeta Isaías: “preparai no deserto o caminho do Senhor”. Em suas palavras, Deus percorre esse caminho para encontrar cada pessoa, e a missão da Igreja é acompanhá-lo nessa busca. “Cada um que chega não é um número, é um acréscimo de felicidade para nós”, afirmou.

Dom Armando: uma teologia da liturgia como experiência viva do Mistério

A conferência de Dom Armando Bucciol apresentou uma reflexão teológica e espiritual marcada pela sensibilidade pastoral. O conferencista iniciou destacando a novidade de linguagem inaugurada por João XXIII e pelo Concílio Vaticano II: não uma mudança de conteúdo, mas de atitude.

Ele lembra que o Concílio convidou a Igreja a se revelar ao mundo com uma proximidade renovada. “A liturgia é uma das experiências fundamentais em que a Igreja se revela”, afirmou.

Dom Armando explicou que a palavra mistério, na tradição de São Paulo e na linguagem dos padres da Igreja, não indica algo oculto, mas uma experiência profunda de Deus que se revela em Cristo. Ele ressaltou que a liturgia é o lugar por excelência dessa revelação: “é na liturgia que nós alimentamos a nossa fé e a força para sermos testemunhas do Senhor morto e ressuscitado”.

Ele insistiu que os sacramentos , e especialmente a Eucaristia, não são cerimônias, mas acontecimentos. “Quando nós celebramos os sacramentos, nós nos tornamos protagonistas dessa história de salvação que continua e se realiza em nosso hoje.”

Dom Armando reforçou a importância de que fiéis e ministros compreendam os sinais litúrgicos, para que não se tornem “espectadores”, como alerta  a Sacrosanctum Concilium. Ele relacionou isso à necessidade de uma catequese mistagógica, que possa unir formação doutrinal e experiência celebrativa.

Entre os pontos mais poéticos de sua fala, Dom Armando citou Desiderio Desideravi, do papa Francisco, descrevendo a liturgia como espaço onde todos os sentidos do corpo são envolvidos: o pão, o vinho, a palavra, o óleo, o incenso.

Para ele, a liturgia é como uma arte: “Os cinco sentidos ficam envolvidos na celebração da Eucaristia. A liturgia exige delicadeza, competência e espiritualidade. Isso inclui leitores e todos os ministérios litúrgicos: quem empresta sua voz a Cristo e à Igreja deve estar profundamente imbuído desse ministério”, refletiu.

Italiano radicado no Brasil, Dom Armando Bucciol é uma das principais referências litúrgicas da CNBB, tendo sido presidente da Dimensão de Liturgia e bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA). Doutor em Liturgia Pastoral pelo Instituto de Santa Justina (Pádua), é reconhecido pela simplicidade pastoral e formação litúrgica sólida. Hoje vive em Roma, onde é diretor espiritual do Colégio Pio-Brasileiro.

“Liturgia é a vitrine da Igreja”

O professor José Reinaldo, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Goiás e mediador da conferência, destacou que não é casual que Sacrosanctum Concilium tenha sido o primeiro documento promulgado pelo Concílio Vaticano II.

Ele lembrou que, já em dezembro de 1963, o Concílio apresentou ao mundo a sua Constituição sobre a Sagrada Liturgia, gesto que, segundo o docente, funcionou como “uma espécie de vitrine da Igreja”.

Em sua análise, o professor explicou que o Vaticano II quis enviar um sinal imediato de atualização e renovação. “A liturgia é a vitrine da Igreja”, afirmou. Para José Reinaldo, o fato de o Concílio iniciar sua mensagem pública pela reforma litúrgica revelou a intenção de anunciar com clareza a entrada da Igreja em uma nova etapa histórica,  não de ruptura, mas de “continuidade dinamizada”, como descreveu.

O professor ressaltou ainda que a escolha da liturgia como primeiro documento simboliza o desejo conciliar de renovar a vida e a ação pastoral da Igreja de modo visível. Ele destacou que essa renovação passa por um reencontro com a Palavra de Deus no coração das celebrações, por uma reafirmação da centralidade de Cristo e pela reorganização do calendário litúrgico para evidenciar ainda mais o mistério pascal.

A programação do Congresso continua nesta quarta-feira, 10 de dezembro. A conferência de encerramento será ministrada pela profa. Maria Inês de Castro Millen (UniAcademia), às 20 horas, no auditório Mãe da Igreja/ Cidade da Comunhão. Ela abordará o tema A teologia moral hoje à luz da recepção do Vaticano II.

Matéria: Belisa Monteiro

Fotos: Rudger Remígio 

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