Neste domingo (24), celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo e a primeira pergunta que pode vir é: Qual realeza estamos celebrando? Para responder a essa e outras questões a respeito da solenidade de hoje, entrevistamos o padre José Luiz da Silva, formador do Seminário Propedêutico Santa Cruz. De acordo com o padre, o reinado de Jesus é diferente daquele querido pelos homens. Não se trata de um reinado político que tinha a pretensão de restaurar Israel, mas um reino de justiça, paz, amor, perdão. “É do alto da cruz que Jesus vai mostrar a sua realeza, entregando sua vida em resgate de muitos, em Israel”, esclareceu.
O Evangelho de hoje (Lc 23,35-43) apresenta-nos essa realeza de Jesus, conforme realçou o padre. Questionado se não há contradição em falar de reinado e cruz, o formador explicou: “Não há nenhuma contradição dentro da revelação bíblica. Fora dessa tradição, tudo vira escândalo. Na liturgia, celebramos a realeza de Cristo, e estar entre dois malfeitores revela a diferença desse reinado que, do alto da cruz, apresenta a salvação para o homem e revela que o seu reinado não é deste mundo: ‘hoje estarás comigo no paraíso’ (Lc 23,43)”.

Neste dia especial, todo cristão deve permitir que Jesus Cristo Rei do Universo seja primeiro Rei de nossa vida. O entrevistado salientou, porém, que o modo de viver não se trata só de um dia, mas da vida toda. “Por vezes, queremos falar de Cristo Rei, mas ele não exerce o seu reinado, nem mesmo em nossa própria vida. É preciso viver como cristãos, como testemunhas desse reinado que, a partir de uma experiência com o Mestre, possam viver e anunciar a justiça, a paz e o amor, oferecendo o perdão aos nossos irmãos e irmãs.”
Quando se perguntou o que muda na liturgia neste dia, o entrevistado afirmou: “A liturgia não muda, mas todos somos chamados a mudar o coração e proclamar Jesus Rei do Universo. É justamente por isso que neste dia 24 de novembro celebramos também o Dia do Cristão Leigo. “Dada a importância da missão e da vida do leigo na Igreja como sujeito de ação que ajuda e promove o crescimento do Reino de Deus, nada melhor que esta festa para celebrar o seu dia. Celebrar o Dia do Leigo só tem sentido dentro dessa consciência”, declarou. O leigo é sujeito na Igreja, responsável pela vida e missão dela, para que o reinado de Jesus Cristo possa ser cada vez mais visível neste mundo.
Ano A – São Mateus
Ainda na entrevista, perguntamos ao padre José Luiz sobre a proposta de vivência cristã para o novo Ano Litúrgico que começa, em que a Igreja irá refletir e celebrar o Evangelho de São Mateus. Ele comentou que é um ano desafiante e fez orientações para que o vivamos bem. “O Evangelho de Mateus foi escrito por volta dos anos 80 a 90 d. C. Ele é direcionado, em grande parte, para uma comunidade judaica, que vivia na Síria. Por isso, o autor remete constantemente ao Antigo Testamento e apresenta Jesus Cristo como aquele que cumpre as profecias. A proposta de Mateus para a vivência cristã é desafiadora e está compilada no capítulo cinco com o famoso Sermão da Montanha. Nele, encontramos um projeto de vida para todos os cristãos.

Na sua abertura, encontramos as bem-aventuranças. Na escola das bem-aventuranças podemos entender todas as linhas mestras do Evangelho de Mateus: o Messias-servo, que vem anunciar uma nova justiça, ensina os apóstolos a oração e é mestre, em Israel, que forma o discípulo, pois a comunidade, para Mateus, é uma fraternidade de discípulos. Desse modo, no ano de Mateus, somos chamados a viver as bem-aventuranças, formando, assim, uma comunidade de discípulos. Como orientação espiritual, os fiéis poderiam assumir a leitura do Evangelho de Mateus, juntamente com a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, sobre a santidade no mundo atual”, orientou.
Fúlvio Costa