Pelo quarto ano consecutivo, a Igreja celebra o Dia Mundial dos Pobres. A iniciativa começou em 2017. Naquela ocasião, o papa Francisco explicou em sua mensagem especial para o dia que “o amor não admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo, sobretudo quando somos chamados a amar os pobres”. Ele ainda ressaltou que “nestes dois mil anos, quantas páginas de história foram escritas por cristãos que, com toda a simplicidade e humildade, serviram os seus irmãos mais pobres, animados por uma generosa fantasia da caridade!”. O tema da mensagem foi “Não só com palavras, mas amar com ações”.
Neste ano de 2020, a mensagem do papa nos exorta: “Estende tua mão ao pobre” (Sir 7,32). Francisco nos convoca a contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a pobreza dos nossos irmãos. De que forma? Primeiro, “o encontro com uma pessoa em condições de pobreza deve nos provocar e nos questionar”. Segundo, “estender a mão é um sinal”, afirmou. “Um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor”.
A Arquidiocese de Goiânia adere à iniciativa também pelo quarto ano consecutivo, mas neste ano devido à pandemia do coronavírus, o Dia Mundial dos Pobres será bem diferente dos demais já realizados, conforme explica o padre Jonisoncley Santos Carvalho, coordenador da Ação Social Arquidiocesana. “Nossa Arquidiocese, atenta à dimensão da ação social, nos convoca a promover um momento de partilha em todas as paróquias. Reconhecemos, com alegria e gratidão, as diversas ocasiões de partilha que já aconteceram. Nos dias 14 e 15 de novembro, orientamos que cada paróquia promova a arrecadação de alimentos e produtos para higiene e proteção em tempo de pandemia, como álcool em gel, álcool 70% e água sanitária. Depois, as paróquias encaminharão, segundo seu conhecimento, a destinação dos bens arrecadados às pessoas necessitadas”. Esse gesto, continua o padre, “tem o propósito de recordar que a Santa Igreja nos convida a um exame de consciência sobre as causas de pobreza no mundo e a pensar sobre quais atividades podemos realizar para promover concretamente a solidariedade entre as pessoas”.

Mais pobreza e extrema pobreza
O tempo de pandemia que estamos vivendo há nove meses poderá levar a América Latina à pior recessão registrada em um século. Isso poderá aumentar o número de pobres que antes da pandemia era de 45 milhões de pessoas para um total de 230 milhões. O número de pessoas extremamente pobres deverá saltar de 28 milhões para um total de 96 milhões, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). É considerado pobre o indivíduo que ganha menos de R$ 738 por mês e extremamente pobre aquele que ganha menos de R$ 353 por mês. É tempo, portanto, de estender a mão. “Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas! A mão estendida do médico que se preocupa com cada paciente, procurando encontrar o remédio certo.
A mão estendida da enfermeira e do enfermeiro que permanece muito além dos seus horários de trabalho, a cuidar dos doentes. A mão estendida de quem trabalha na administração e providencia os meios para salvar o maior número possível de vidas. A mão estendida do farmacêutico exposto a inúmeros pedidos num arriscado contato com as pessoas. A mão estendida do sacerdote que, com o coração partido, continua a abençoar. A mão estendida do voluntário que socorre quem mora na rua e a quantos, embora possuindo um teto, não têm nada para comer. A mão estendida de homens e mulheres que trabalham para prestar serviços essenciais e de segurança. E poderíamos enumerar, ainda, outras mãos estendidas, até compor uma ladainha de obras de bem. Todas estas mãos desafiaram o contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação”. (Mensagem para o IV Dia Mundial dos Pobres, 6)
A oração e as obras
É ainda um ponto importante da mensagem do papa, a ligação que deve haver entre a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos. Ele afirma que mesmo as pessoas mais indigentes e desprezadas trazem gravadas em si mesmas a imagem de Deus e que, para celebrar um culto agradável ao Senhor é preciso reconhecer isso antes. “O tempo que se deve dedicar à oração não pode tornar-se jamais um álibi para descuidar o próximo em dificuldade. É verdade o contrário: a bênção do Senhor desce sobre nós e a oração alcança o seu objetivo, quando são acompanhadas pelo serviço dos pobres”, explica. Viver pessoalmente a pobreza evangélica é um caminho que todos nós devemos seguir, segundo o Santo Padre. “Não podemos sentir-nos tranquilos, quando um membro da família humana é relegado para a retaguarda, reduzindo-se a uma sombra. O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade”, destaca o papa Francisco.
Fúlvio Costa