Fênykis de Oliveira Silva, 28 anos, e Saulo Ribeiro, 54 anos. Esses são os dois novos sacerdotes ordenados pela Igreja de Goiânia sob a imposição das mãos do seu arcebispo Dom Washington Cruz, na segunda-feira, 7 de dezembro, véspera da Solenidade da Imaculada Conceição. A celebração aconteceu no Santuário-Basílica Sagrada Família, na Vila Canaã.
Para falar sobre suas vocações, o Jornal Encontro Semanal entrevistou os neossacerdotes, dias antes da cerimônia de ordenação. Saulo, que é uma vocação adulta, já foi membro da Toca de Assis. Ele deixou a Nova Comunidade, mas continuou inquieto e encontrou o acolhimento de Dom Washington Cruz para experimentar a caminhada na vocação sacerdotal. “Após conhecer a minha história, Dom Washington me propôs um caminho de discernimento que confirmou minha vocação. Então, eu acredito que foi uma decisão motivada pelo chamado de Deus em minha vida e, por isso, fiz o abandono de mim mesmo, entregando minha vida ao Pai”, disse o novo padre.
Fênykis sentiu a inquietação pelo chamado do Senhor ainda criança. Queria ser papa. Essa era uma meta de vida alimentada pela sua admiração por São João Paulo II. O tempo foi passando e à medida que se engajava na comunidade, conhecia mais de perto a vocação sacerdotal. Foi na Primeira Comunhão que os olhos brilharam mais ao ver o ofício sendo desempenhado com tanto zelo pelo seu pároco, o padre Alaor Rodrigues. “Quero ser como ele”, dizia para si mesmo. O Senhor foi lapidando o coração de Fênykis porque ele se deixava conduzir. “A voz da Igreja sempre me acolheu e me incentivou por meio dos formadores ou pela presença e paternidade de Dom Washington”, disse sobre sua caminhada no seminário.
Ser padre. Por quê? Para Fênykis e Saulo, não há um porquê quando se trata de responder as motivações para se tornar sacerdote. “Esta é a vontade de Deus na minha vida e minha preocupação foi apenas entender essa vontade”, respondeu Saulo. “Eu e Saulo já conversamos muito sobre isso e concordamos que Deus manifesta sua vontade e espera de nós a vida doada em qualquer vocação. De nós foi no diaconado e, agora, no presbiterado. Portanto, ser padre é fazer a vontade de Deus porque foi isso que ele sonhou para mim.”
Ser pastor como Cristo o foi
Ser padre em um mundo em que o consumismo e o individualismo estão bastante evidentes é um desafio, mas não o maior. Sobre esse tema, a visão de Saulo está bem alinhada com a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores Dabo Vobis, de São João Paulo II, que diz em seu n. 21: “Mediante a consagração sacramental, o sacerdote é configurado a Jesus Cristo enquanto Cabeça e Pastor da Igreja e recebe o dom de um ‘poder espiritual’ que é participação da autoridade com a qual Jesus Cristo pelo Seu Espírito conduz a Igreja”. Padre Saulo disse: “A missão do sacerdote primeiramente é ser Pastor como Cristo foi pastor. Então, ser padre é se configurar cada vez mais a Cristo pastor e procurar aderir aos ensinamentos que a Igreja está propondo para nós. Não é necessário inventar algo estupendo, mas procurar viver a Igreja, sobretudo em unidade com o Santo Padre, o papa, e com as Diretrizes Pastorais da Igreja, sendo fiel, com o coração generoso que evangelize, conforte as pessoas e doe a vida pela causa do Reino”, afirmou.
Padre Saulo tem em uma frase do papa emérito Bento XVI seu lema de ordenação sacerdotal e um sustento para sua vocação. “Conforta-me saber que Deus sabe trabalhar com instrumento insuficiente.” Para o neossacerdote, essa frase tem tudo a ver com sua vocação. “O papa Bento XVI disse essa frase logo quando assumiu seu pontificado e desde então ela me marcou muito porque por esse texto vejo minhas fraquezas, limitações e, mesmo assim, o Senhor me escolheu para a graça de ser sacerdote”, declarou. O ser padre é, para Fênykis, sinal de esperança. “Carecemos de bons testemunhos, de fidelidade, de respostas concretas que perdurem pelo resto da vida e por meio do sacerdócio podemos dar esse testemunho de esperança, ser canal da graça e do amor de Deus, pela reconciliação, pelo conforto das famílias enlutadas, mas sobretudo no testemunho diário, diante da Eucaristia e da Santa Missa que é a maior entrega de Deus por nós.” Seu lema sacerdotal é o mesmo escolhido para a ordenação diaconal. “Mas a tua vontade seja feita”. A frase foi dita por Jesus no momento de sua agonia no Jardim do Getsêmani (Mt 26,36), momentos antes de ser entregue às mãos dos pecadores. “Escolhi esse lema porque eu tinha certeza de que estava tomando uma decisão irrevogável para o resto da vida. No Seminário Maior nós temos uma cruz e, diante dela, com essa frase, eu começava a lembrar do meu processo vocacional, pois sabia que tinha entrado no seminário para descobrir a vontade de Deus e, enquanto meditava essa passagem, lembrava da agonia extrema de Jesus. Ele foi assistido pelos anjos naquele momento e eu, durante meu processo vocacional também sempre fui assistido por Deus em tudo.”
Mensagem Vocacional aos jovens
Por fim, os neossacerdotes deixaram uma mensagem de coragem e ânimo aos jovens. “Como disse São João Paulo II: ‘não tenhais medo, ele nos capacita, nos fortalece, por isso, devemos confiar nele. Já o papa Bento XVI disse: ‘Deus não nos tira nada, mas nos dá tudo’. Coragem, jovem, deixe Deus transformar sua vida.” Já Fênykis refletiu mais uma vez sobre seu processo vocacional. “Muitos jovens têm uma inquietação vocacional e talvez os mesmos sentimentos que eu tive, a liberdade, por exemplo. Os jovens almejam isso e, aqui, no seminário, eu encontrei, seja em meus desejos, afetos, porque fiz a vontade de Deus e sinto que sou livre para amar e servir aqueles que mais necessitam. No seminário eu sempre dormi sentindo que Deus estava me fazendo feliz e isso me levava adiante. Por isso, digo aos jovens, coragem, o Senhor vai sustentar e capacitar sempre mais aqueles que se abandonam verdadeiramente à vontade dele.”
“Sermos de Deus é a nossa identidade”, disse Dom Washington aos novos padres
A celebração de ordenação presbiteral dos diáconos Fênykis e Saulo foi presidida por Dom Washington Cruz e contou com a presença do bispo eleito para a Diocese de Barreiras (BA), Dom Moacir Silva Arantes, além de diversos padres do clero da Arquidiocese de Goiânia e padres amigos dos ordinandos, entre eles os padres Rodrigo de Castro, reitor do Santuário-Basílica Sagrada Família, o padre José Luiz da Silva, reitor do Seminário Interdiocesano São João Maria Vianney e o padre Raphael Alievi, ordenado recentemente em Jataí.
Em sua homilia, Dom Washington falou sobre o chamado de Deus ao ministério ordenado. Segundo o arcebispo, “o chamado ao ministério ordenado é, de fato, obra exclusiva da graça de Deus, dignidade total da sua misericórdia, pois o ser humano não tem outro mérito senão a sua colaboração humilde e fiel numa vocação que ultrapassa todas as suas limitações humanas”.

Ao falar da identidade do sacerdote, o arcebispo disse: “A primeira certeza que o sacerdote possui, e também a mais importante, é que pertence a alguém. Esse alguém é Cristo, ao mesmo tempo, pertencer a Cristo é o vértice de um caminho que se constrói, todos os dias, o horizonte e a meta é Cristo. É nele que permanecemos unidos, 24 horas por dia, para, assim, mostrar os frutos dessa união. Essa união, como sabemos, acarreta responsabilidades e obrigações: santificação pela oração e pela celebração dos sacramentos. O sacerdote pertence, ainda, à comunidade e essa pertença define a sua identidade e o seu ministério. Nós sabemos que fomos tomados da comunidade, não por nossa própria vontade, mas por iniciativa e compromisso divino. Ao sermos tomados da comunidade somos devolvidos à comunidade como irmãos, pais e pastores. E imbuídos dessa doutrina, não nos contentamos em viver só na comunidade, mas juntamente com todos os irmãos; somos ministros no sentido de servos e guias da comunidade para liderar ao estilo do Bom Pastor que dá a vida”.
A beleza do Rito de Ordenação
A Sagrada Ordenação é conferida pela imposição das mãos do bispo e a Oração Consecratória, através da qual ele bendiz o Pai e invoca o dom do Espírito Santo para a realização do ministério. De fato, consta claramente pela tradição, manifestada sobretudo nos ritos litúrgicos e na prática da Igreja tanto do Oriente como do Ocidente, que pela imposição das mãos e pela Oração de Ordenação se confere o dom do Espírito Santo e se imprime o carácter sagrado, de sorte que os bispos, os presbíteros e os diáconos, cada um a seu modo, se assemelham a Cristo (Pontifical Romano, n. 6, pág. 16).
O Rito de Ordenação começa após a leitura do Evangelho com a eleição dos candidatos. Neste momento há um diálogo entre o reitor do seminário que pede ao bispo que os diáconos sejam ordenados presbíteros. O bispo interroga o padre reitor querendo saber se eles são dignos de tal ministério e o reitor responde ao bispo que, tendo interrogado o povo de Deus e a equipe de formação, os diáconos foram considerados dignos do ministério. Aqui entendemos a beleza da Igreja, já que os padres são tirados do meio do povo para estar a serviço do povo.
Após a eleição dos candidatos, o bispo faz a homilia refletindo sobre os textos bíblicos lidos na Liturgia da Palavra e também pode-se falar sobre o Ministério Presbiteral. Após essa reflexão acontece o momento dos propósitos e da promessa dos eleitos. Isso ocorre por meio de um diálogo do bispo com os eleitos que confirmam, diante do povo de Deus, a sua livre vontade de assumir o ministério presbiteral. O final desse diálogo acontece com os eleitos ajoelhados diante do bispo, prometendo a ele e a seus sucessores respeito e obediência. Depois de as promessas sacerdotais serem feitas, o bispo convida todos os presentes a cantar a Ladainha de Todos os Santos, pedindo que Deus os conceda a abundância dos dons celestes a esses seus servos para o Ministério Presbiteral.
A última parte do Rito de Ordenação apresenta alguns símbolos, ricos em significado e que indicam o ministério da Ordem. Terminada a Prece de Ordenação, o eleito, com o auxílio de um ou dois presbíteros, é revestido com a estola sacerdotal e a casula. Em seguida, de joelhos, a palma das mãos do ordenado é ungida pelo bispo com o Óleo do Santo Crisma. Prosseguindo, os ordenados recebem a oferenda do povo de Deus para o Santo Sacrifício e são acolhidos pelo bispo e o presbitério da diocese.
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Fúlvio Costa e Marcos Paulo