O Evangelho deste domingo, que inicia a quarta e última semana do Advento, é um pouco incomum, apresenta duas mulheres. Normalmente, os homens ocupam o centro do palco na maioria das narrativas. As mulheres eram menos consideradas e desempenhavam papéis muito menores no mundo da religião, do comércio e da sociedade. Mas as mulheres terão papéis mais evidentes no Evangelho de Lucas. Elas farão parte da comunidade itinerante de Jesus e serão fiéis a Jesus até o fim, quando Ele morrer na cruz, abandonado por seus discípulos.
O texto narra duas mulheres que confiaram nas palavras que Deus lhes disse. As duas tinham fé, apesar das probabilidades contra elas. Isabel, esposa de Zacarias, já havia passado da idade de ter filhos e Maria era jovem, noiva de José, mas ainda não era casada. Ambas receberam um chamado considerável, mas o que se pediu delas ia contra as normas culturais e religiosas da época.
Isabel é a mulher estéril tornada fecunda por Deus e dará à luz João Batista. A esterilidade era considerada culpa da mulher, um castigo pelo pecado. Lucas nos diz que Isabel e seu marido Zacarias são justos. Mesmo assim, ela não pode ter filhos e se refere à sua condição como “meu opróbrio dentre os homens” (Lc 1,25). Deus intervém, como Ele frequentemente faz nas escrituras − e entre nós − para levantar os humildes − tirando a desgraça de Isabel.
Depois que o anjo anunciou a Maria: “pois encontrastes graça diante de Deus. Eis que conceberás …” (Lc 1,31), ela partiu “às pressas para a região montanhosa” (Lc 1,39) para a casa de sua prima Isabel. Quando Maria chega, Isabel se comporta como uma profetisa: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu!” (Lc 1,45). A “bem-aventurança” ou “felicidade” de Maria é que ela acreditava e confiava nas promessas de Deus que se tornariam realidade.
“A poucos dias da festa de Natal, somos convidados a fixar o olhar no mistério inefável que Maria manteve por nove meses no seu seio virginal: o mistério de Deus que se faz homem. Esta é a essência primeira da redenção” (papa Bento XVI)
Não é isso que o Advento nos pede − confiar, acreditar e esperar pacientemente na esperança de que o que Deus prometeu será cumprido? Deus nos prometeu uma nova vida e o Natal afirmará essa promessa na realidade concreta do nascimento de Jesus. O eterno se fez carne e Deus deu um passo definitivo em Jesus para trazer um reino de paz e amor. Isso vai acontecer. Deus prometeu e Jesus nos dará seu Espírito para nos ajudar a
esperar e também agir para realizar o reino.
Esperar pacientemente que as promessas sejam cumpridas não significa que não faremos nada enquanto isso. Ora, não vamos escalar alguma montanha sagrada, ficar de frente para o leste e esperar que Cristo venha com o sol nascente. Isso foi tentado e os observadores ficaram desapontados. Nem vamos sentar e deixar Deus cuidar dos problemas do mundo enquanto nos escondemos e esperamos. Quando as nuvens de inquietação e turbulência no mundo se agitam, é tentador fazer isso, evitar o estresse e ficar isolado, mantendo os outros à distância. Se nos aproximarmos dos feridos e vulneráveis, sua dor pode fazer com que sintamos sua necessidade e, assim, nos envolvamos. Melhor manter uma distância segura e permanecer em nosso mundo sistemático. Mas não há esperança do Advento nisso − é mais desespero e rendição às forças da morte.
A liturgia do 4º Domingo do Advento não fala de retirada dos problemas do mundo, mas nos chama para uma participação ativa. Miqueias foi um profeta no oitavo século a.C., quando Israel era próspero, mas os reis eram corruptos e as práticas religiosas eram imperfeitas. Miqueias previu que o fracasso dos reis e líderes religiosos levaria à destruição de Jerusalém. Embora não houvesse sinais presentes para apoiá-lo, Miqueias tinha esperança de que Deus levantaria um rei ideal, não da cadeira de poder, mas de uma pequena vila, Belém. O profeta não vê como Deus vai cumprir sua esperança, mas Ele
fala da promessa de Deus de que um governante de Israel virá de Belém.
Retornando ao encontro de Maria e Isabel, além do encontro humano, percebemos nesta narrativa que existe o encontro com Deus. É o que acontece quando, como as duas mulheres, atendemos às necessidades de outra pessoa ou grupo de pessoas, por amor, carinho, acolhimento, apreço e disponibilidade em servir. O exemplo e a troca entre as duas devem nos motivar para olhar à nossa volta e perceber quem precisa de uma visita, da nossa presença, ajuda e tempo neste momento. Em outras palavras, para quem podemos ser uma bênção e, por sua vez, ele(a) uma bênção para nós?

Fernanda Freitas