Nos dias 12 a 16 de abril foi realizada a 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de modo totalmente on-line devido à pandemia do coronavírus. O tema central do evento foi a “Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias”. O estudo sobre o tema foi aprovado pelo episcopado brasileiro no dia 14. A última versão do texto, com a incorporação das sugestões, foi apresentada aos bispos pelo arcebispo de Curitiba (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico Catequética da CNBB, Dom José Antônio Peruzzo. Ele coordenou o grupo que elaborou o texto do tema central.
Como a Assembleia não pode aprovar um documento em seu formato on-line, o bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, consultou os bispos sobre a confiança na equipe para incorporar as sugestões finais e sobre a possibilidade de aprovar a sua publicação na série de “Estudos da CNBB”, pela editora da entidade. O episcopado brasileiro aprovou a publicação. “Nosso desejo é poder nutrir sempre mais o povo com a Palavra de Deus”, afirmou o bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA), Dom Armando Bucciol, durante a primeira coletiva de imprensa.
Durante a Assembleia, foi aprovada também, por unanimidade, a realização do terceiro Ano Vocacional da Igreja no Brasil em 2023. Na ocasião, serão comemorados os 40 anos do primeiro ano temático dedicado à reflexão, oração e promoção das vocações no país. A proposta foi apresentada pela Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB.
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Segundo o bispo de Tubarão (SC) e presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados, Dom João Francisco Salm, o Ano Vocacional de 2023 dará continuidade a um processo iniciado em 1983, quando foi celebrado o primeiro Ano Vocacional do Brasil. Naquela oportunidade, a iniciativa “favoreceu e ampliou o reconhecimento de que toda a comunidade cristã é responsável pela animação, cultivo e formações das vocações”. O bispo também elencou vários frutos que surgiram como a dinamização dos Serviços de Animação Vocacional e da Pastoral Vocacional e a produção de subsídios.
O Fundo Nacional da Solidariedade (FNS) foi um dos assuntos da pauta da Assembleia. Dom Joel Portella Amado fez uma prestação de contas aos bispos quanto ao montante arrecadado até o momento, fruto da coleta realizada pela Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) de 2021. A administração desses recursos para aplicação em projetos sociais é o desafio a partir de agora, que se torna mais exigente quando a Campanha da Fraternidade é Ecumênica. Dom Joel explicou aos bispos que neste ano, para gerir esses recursos, foi constituído um Conselho Gestor Especial, composto por três membros da CNBB e três membros do CONIC, que será coordenado por ele. A CNBB vai submeter a esse Conselho uma proposta de três eixos para os projetos sociais amparados pelo FNS: insegurança alimentar, insumos para cuidados sanitários e geração de renda. “No primeiro eixo devem ser priorizados os projetos que tratem da questão da fome; o segundo, dado que não sabemos quando será o fim da pandemia, para projetos ligados a conseguir insumos sanitários; e por fim, o terceiro para projetos que atuem na linha da geração de renda”, afirmou Dom Joel. Após a reunião desse Conselho Gestor dos recursos, será lançado o edital com as normas para inscrição de projetos sociais. As entidades que já tiveram seus projetos beneficiados em edições anteriores precisam estar, rigorosamente, em dia com a prestação de contas para participar da nova seleção.
Campanha da Fraternidade 2022
Os bispos aprovaram também a mensagem destinada ao papa Francisco. No texto, o episcopado brasileiro renovou o seu apreço, carinho e fidelidade ao Santo Padre. Eles buscaram ainda deixar o Santo Padre informado sobre os assuntos importantes para o clero e o povo de Deus na Igreja no Brasil, além de expressarem sua comunhão com a Igreja do mundo todo.
A proposta do tema “Fraternidade e Educação” e do lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) para a Campanha da Fraternidade do ano que vem foi apresentada aos bispos que a aprovaram. O objetivo da campanha, conforme padre Patriky Samuel Batista, secretário executivo de Campanhas da CNBB, é promover o diálogo sobre a realidade educativa no Brasil, à luz da fé cristã. Uma das motivações da CF de 2022 é a celebração dos 40 anos da Pastoral da Educação no Brasil.
Novo regional da CNBB
Outro destaque relevante da 58ª AG da CNBB foi a aprovação da criação do 19º Regional da Conferência. Trata-se do Regional Leste 3, composto pelo estado do Espírito Santo: Arquidiocese de Vitória e as Dioceses de Colatina, Cachoeiro de Itapemirim e São Mateus. A votação contou com a participação de 269 bispos. Desses, 251 aprovaram, seis foram contrários e houve 12 abstenções. O resultado foi comemorado por todo o episcopado mineiro e capixaba, já que essas dioceses integravam o Regional Leste 2 (Minas Gerais). Ainda não há data para a implantação do novo regional, principalmente devido a situação da pandemia do coronavírus que ainda é grave em nosso país.
Retiro
O retiro dos bispos é um dos pontos altos da Assembleia Geral da CNBB. Neste ano, por conta da pandemia, esse momento também precisou ser remodelado. O presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, motivou os participantes da Assembleia a entrarem na mística do retiro. Ele ressaltou que a Igreja está no coração do mundo “para fazer brilhar a luz na presença de Cristo ressuscitado”. O retiro foi pregado pelo arcebispo de Boston, nos Estados Unidos, cardeal Sean Patrick O’Malley. Foram duas meditações intercaladas com momentos de oração e partilha, onde o cardeal conduziu a primeira reflexão a partir da leitura de um trecho do Evangelho de São Lucas (Lc 4,16-32), quando Jesus fez sua primeira pregação na Sinagoga de Nazaré.
Mensagem do Santo Padre
O papa Francisco enviou uma mensagem de vídeo para o episcopado brasileiro reunido. O Santo Padre optou por dirigir-se aos bispos do Brasil falando espanhol, razão pela qual pediu desculpas e justificou tratar-se de um idioma que argentinos e brasileiros entendem bem, o “portunhol”.
Francisco estendeu carinhosamente, através dos bispos do Brasil, a mensagem também “a cada brasileiro e brasileira” e ao amado Brasil, país que em sua avaliação “enfrenta uma das provas mais difíceis de sua história”.
“Desejo, em primeiro lugar, manifestar a minha proximidade a todas as centenas de milhares de famílias que choram a perda de um ente querido. Jovens, idosos, pais e mães, médicos e voluntários, ministros sagrados, ricos e pobres: a pandemia não excluiu ninguém no seu rastro de sofrimento”, disse o chefe da Igreja Católica.
No vídeo, o pontífice dirigiu uma mensagem de ânimo aos bispos brasileiros no contexto da celebração da Páscoa e da Ressurreição de Jesus Cristo. “O anúncio Pascal é um anúncio que renova a esperança nos nossos corações: não podemos dar-nos por vencidos! Como cantamos na sequência do Domingo de Páscoa: ‘Duelam forte e mais forte: é a vida que enfrenta a morte. O Rei da vida, cativo, é morto, mas reina vivo!’ Sim queridos irmãos, o mais forte está ao nosso lado! Cristo venceu! Venceu a morte! Renovemos a esperança de que a vida vencerá!”, disse.
Mensagem ao povo brasileiro
No último dia da Assembleia, 16 de abril, a CNBB divulgou mensagem em que se dirigiu ao povo brasileiro neste grave momento da pandemia em nosso país. No texto, os bispos afirmam que diante da atual situação pela qual passa o Brasil, sobretudo em tempos de pandemia, não podem se calar quando a vida é “ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada”. Os bispos asseguram que são pastores e que têm a missão de cuidar. “Nosso coração sofre com a restrita participação do Povo de Deus nos templos. Contudo, a sacralidade da vida humana exige de nós sensatez e responsabilidade”, explicaram.
O episcopado reitera que no atual momento precisamos continuar a observar as medidas sanitárias que dizem respeito às celebrações presenciais. Reconheceram agradecidos que as famílias têm sido espaço privilegiado da vivência da fé e da solidariedade. “Elas têm encontrado nas iniciativas de nossas comunidades, através de subsídios e celebrações on-line, a possibilidade de vivenciarem intensamente a Igreja doméstica. Unidos na oração e no cuidado pela vida, superaremos esse momento”.
Por fim, os bispos fizeram um forte apelo à unidade da sociedade civil, Igrejas, entidades, movimentos sociais e todas as pessoas de boa vontade, em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil. “Assumamos, com renovado compromisso, iniciativas concretas para a promoção da solidariedade e da partilha. A travessia rumo a um novo tempo é desafiadora, contudo, temos a oportunidade privilegiada de reconstrução da sociedade brasileira sobre os alicerces da justiça e da paz, trilhando o caminho da fraternidade e do diálogo.
Dom Levi Bonatto
Com a realização das Assembleias anuais, a evangelização sempre evolui na Igreja, conforme avaliação do bispo auxiliar de Goiânia, Dom Levi Bonatto. Para ele, não houve perdas nesse novo formato e foi possível levar adiante as propostas e discussões que se desenvolveram durante essa semana intensa de trabalhos. “Notei que não se perde nada. Os conteúdos são todos muito bem explicados e temos condições de revisar esses conteúdos. Outra coisa que também não se perde é a convivência fraterna entre os bispos, há sempre momento para uma brincadeira. Mas esse esforço da CNBB, na verdade, é para que não ficássemos mais um ano sem ter a assembleia, que é muito importante para a evangelização e muito importante para que a ação missionária do Brasil avance. Foi uma experiência muito boa participar deste formato de reunião”.
Fúlvio Costa, com conteúdo da CNBB Nacional e Cnbb Centro-Oeste