A Igreja, em todo o mundo, celebra, no dia 2 de março, a Quarta-feira de Cinzas e a abertura da Quaresma. No Brasil, além de termos a Quaresma, período forte em que somos convidados mais ainda à conversão, desde 1964 vivenciamos a Campanha da Fraternidade, que nos ajuda a refletir sobre vários temas que incrementam o apelo quaresmal de conversão pessoal e transformação social.
O manual da Campanha da Fraternidade de 2019 diz que o objetivo geral de todas as Campanhas da Fraternidade é “Despertar o espírito comunitário e cristão do povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho; renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária”.
Essa é a terceira vez que a Igreja do Brasil irá refletir sobre a educação. A primeira vez foi em 1982, com o lema “A Verdade vos libertará”. Depois, em 1998, com o lema “A serviço da vida e da esperança”. Agora, em 2022, a Igreja no Brasil nos traz como lema o versículo do Livro dos Provérbios (31,26): “Fala com sabedoria e ensina com amor”.
A abertura da Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de Goiânia aconteceu no Auditório da Área IV da PUC Goiás, com a presença do arcebispo metropolitano, Dom João Justino de Medeiros Silva; de Dom Levi Bonatto, bispo auxiliar da Arquidiocese; contou com a presença do governador do estado de Goiás, Ronaldo Caiado; das reitoras da PUC Goiás, Olga Ronchi; e da UFG, Angelita Pereira de Lima; da diretora do Externato São José, professora Ana Cristina Fonseca.

O arcebispo falou sobre suas experiências com a Campanha da Fraternidade antes ainda de ser padre e lembrou o ano de 1979. “Nasci e cresci em uma igreja que realizava a Campanha da Fraternidade. Tenho ótimas recordações do tempo da minha catequese e dos anos de Educação Básica quando, mesmo na escola pública, a Campanha era apresentada e refletida com todos os alunos. Tenho lembranças vivas da Campanha de 1979, com o tema “Por um mundo mais humano e lema ‘Preserve o que é de todos’. Depois, como seminarista, padre e bispo, animei muitas Campanhas nas comunidades por onde passei.”
Dom João Justino disse também que a Campanha da Fraternidade, independente do tema, não nos atrapalha em nosso caminho quaresmal. “Não vejo nenhuma perda do espírito quaresmal. Antes, cada Campanha da Fraternidade interpela nossa coerência cristã e aponta caminhos de conversão para uma mais densa fidelidade a Jesus Cristo, ao Evangelho, ao seu Reino.”
Por que uma Campanha da Fraternidade junto com a Quaresma?
O arcebispo fez uma relação da Quaresma com a Campanha da Fraternidade. “Alguns poderiam pensar que no tempo de preparação para a Páscoa a Igreja no Brasil proponha a Campanha da Fraternidade, articulada em torno de temas de imediata incidência social.” Assim Dom João nos questiona: “Quem poderia negar que existe uma profunda relação entre viver a fraternidade e construir uma sociedade justa e fraterna? A Páscoa de Jesus nos compromete com o anúncio de novos céus e uma nova terra, da vitória da vida sobre a morte, da liberdade sobre qualquer forma de escravidão. A Campanha da Fraternidade não faz sombra ao sentido da Quaresma, mas potencializa o apelo à conversão, ao identificar realidades pessoais e sociais que precisam ser iluminadas pelo Evangelho”.

Padre Luiz Henrique Brandão de Figueiredo refletiu sobre o tema deste ano. “A escolha do tema para este ano, além de sua atualidade universal, foi ‘impulsionada pelo Pacto Educativo Global’ (CF 2022, Texto Base, 7) proposto pelo papa Francisco. Na carta de convocação, bem como no Instrumento de trabalho, o Sumo Pontífice apresenta alguns elementos constitutivos de uma educação humanizada que contribua na formação de pessoas abertas, integradas e interligadas, que também sejam capazes de cuidar da casa comum. O desafio desta proposta já seria grande em qualquer momento da história. Em um tempo marcado pela pandemia da covid-19 e por diversos conflitos, distanciamentos e polarizações, ele se tornou ainda mais urgente e desafiador, pois, como afirma o texto- base, inspirado nas palavras do papa Francisco, ‘é preciso reaprender a amar, a perdoar, a cuidar, a curar, a dialogar e a servir a todos’ (CF 2022, Texto-base, 8), construindo uma verdadeira fraternidade alicerçada na justiça e na paz, e isto só será possível à medida em que Cristo, que nos liberta do egoísmo, for tudo em todos (1Cor 15,22).”
Já padre Rodrigo Lacerda nos apresentou como será a nossa caminhada quaresmal à luz da Palavra de Deus. “A Campanha da Fraternidade serve para nos fazer pensar sobre as realidades que vivemos em nosso país. Jesus nos ensina que Deus Pai faz uma escolha amorosa pelo seu povo, mas essa escolha encontra a resistência. A conversão é acolher o amor de Deus e agir com o mesmo amor.”
“O tempo da Quaresma, juntamente com a Campanha da Fraternidade, nos traz o pensamento de que, através dos dramas que a população enfrenta, Jesus partia também de dramas concretos para ensinar, exortando à conversão”, disse padre Rodrigo.
Durante a abertura, o governador do estado de Goiás, Ronaldo Caiado, falou da importância da Igreja Católica como parceira na educação, fazendo com que as pessoas possam ter uma melhor educação e um melhor desenvolvimento humano.
O papa Francisco enviou uma mensagem ao povo brasileiro por ocasião da Campanha da Fraternidade, estimando o bom êxito da campanha. “Desejo de todo o coração que a escolha do tema ‘Fraternidade e Educação’ torne-se causa de grande esperança em cada comunidade eclesial e de efetiva renovação nas escolas e universidades católicas, a fim de que, tendo como modelo de seu projeto pedagógico a Cristo, transmitam a sabedoria educando com amor, tornando-se assim modelos desta formação integral para as demais instituições educativas. Desejo igualmente, queridos irmãos e irmãs, que o itinerário quaresmal, iluminado pela reflexão proposta, seja ocasião de verdadeira conversão e que as sementes lançadas ao longo deste caminho encontrem nos corações dos fiéis a boa terra onde possam frutificar em ações concretas a favor de uma educação integral e de qualidade.”
Marcos Paulo Mota