“Deus nos amou primeiro”
São características do amor tomar a iniciativa, movimentar-se, dar de si, cobrir a pessoa amada de favores e de graças. Diz-se que o amor é difusivo, e Deus quer efundir a plenitude do amor que se encontra na vida trinitária, através da criação do universo. A ele nada faltava para ser feliz, possuía todo bem, de um modo superior a qualquer coisa que possamos imaginar (cf. 1Cor 2,7-11). Por livre ato de sua vontade, Deus quis que suas criaturas participassem da sua alegria e da sua plenitude. Eis a criação, com suas maravilhas, seus segredos e suas leis; eis o homem, ser inteligente, criativo, livre e capaz de se desenvolver e de progredir, capaz de compreender e de amar. Dotado de razão, o homem sente necessidade de indagar sobre as
causas do ser e de suas mudanças, dos fenômenos físicos e químicos, do mundo externo e interno. Eis a estrada para se chegar do efeito à causa, da criatura ao Criador, do homem a Deus (cf. Sb 13,1-9; Rm 1,20-23), a estrada para se reconhecer, no amor de Deus, o princípio primeiro de cada ser. Na criação resplandece o amor de Deus.
A revelação do amor de Deus foi gradual: Deus se adaptou à nossa humana natureza, procedendo, em sua manifestação, com um ritmo lento, mas muito interessante. O Antigo Testamento poderia ser chamado de história do amor de Deus para com o ser humano. “Israel é meu filho, o meu primogênito” (Ex 4,22). Deus se aproxima do homem, quer estabelecer com ele um diálogo, uma aliança; com delicadeza, ele compara o seu amor ao de um esposo; lamenta quando não é correspondido, mas está sempre pronto a perdoar.
O seu amor é de pura benevolência, isento de qualquer interesse e de egoísmo, um amor que doa, cria, se imola para o bem da pessoa amada. Assim também deve ser o nosso amor ao próximo; um amor “novo”, sem limites, que abraça a todos, que não se detém diante do mal, mas que se estende até aos inimigos, conforme o ensinamento do próprio Jesus: “Amai os vossos inimigos” (Lc 6,27). De forma que a caridade se transforma em
experiência de conversão. O exercício da caridade é uma sábia e santa forma de evangelizar.
O amor não conhece fronteiras. O importante é amar como Deus ama. O mundo marcha indubitavelmente para a unidade ainda que com uma conotação fortemente tecnológica e econômica. A cada dia desabam barreiras que separaram, durante séculos, homens e culturas, nacionalidades e civilizações diferentes. Vai-se realizando, assim, o desígnio de Deus para os seus filhos, que é de paz, de amor e de fraternidade. Nesse processo gerador de unidade, o Senhor exige também a nossa participação. Devemos compreender e, sobretudo, viver melhor o preceito do amor fraterno, tanto entre nós da família arquidiocesana, quanto com as demais pessoas do mundo inteiro. Este é um dos mais bonitos testemunhos de Cristo Ressuscitado, porque “nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35).
Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia