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Canto e Música no Tempo Quaresmal

Canto e Música no Tempo Quaresmal

  O tempo quaresmal constitui-se um momento privilegiado para revermos nossa vida, especialmente no tocante à nossa relação com Deus

 

O tempo quaresmal constitui-se um momento privilegiado para revermos nossa vida, especialmente no tocante à nossa relação com Deus e com os irmãos. Ao longo de cinco semanas, motivados pelo testemunho dos 40 dias em que Jesus se retirou no deserto para rezar, preparamo-nos para a grande celebração cristã: a Páscoa. Por isso, embora se trate de um período com suas próprias características, apenas podemos considerá-lo plenamente caso o tomemos como uma espécie de introdução ao que virá, passando pelo Sagrado Tríduo Pascal, no Domingo da Ressurreição.

 

Pelo Ano Litúrgico, somos transportados à realidade da nossa fé e podemos tomar parte nos principais acontecimentos da vida de Cristo, inserindo nossa própria vida nesse horizonte de comunhão. Isso é o que fazemos por meio de gestos, palavras, posições corporais, mas também com o nosso canto. O canto quaresmal tem, então, a finalidade de aproximar-nos do sentido que é experimentado nesse tempo particular, distinguindo-o do restante do Ano Litúrgico. Não se pode, por isso, atalhar o caminho, desviando-se do que é central em função de gostos particulares. Com a Igreja, atravessamos por dentro, confrontamo-nos com a cruz e dela não fugimos. Do outro lado, porém, encontramos a Vida em plenitude, a Luz que jamais tem ocaso: Cristo Jesus.

 

Pensando a importância do canto e da música no Tempo da Quaresma, bem como a contribuição que eles podem dar para a construção de uma profunda e autêntica espiritualidade quaresmal, queremos, neste texto, apresentar alguns pontos que, em geral, podem suscitar dúvidas em nossas comunidades. Falamos particularmente com os agentes de pastoral ligados ao canto e à música, mas também com os ministros e pastores.

 

O Hino da Campanha da Fraternidade

Embora se constitua como uma iniciativa altamente louvável, cuja origem remete há várias décadas, a Campanha da Fraternidade não deve substituir o espírito da Quaresma, sobretudo quando nos referimos às grandes celebrações do ciclo litúrgico (Domingos, Semana Santa, Tríduo Pascal). Há momentos oportunos para se relacionar o tema motivador da Campanha da Fraternidade com cada celebração: como na homilia, nas preces, no comentário inicial ou final. No entanto, não se deve ofuscar os elementos da liturgia, mantendo a centralidade de Cristo.

 

Além disso, a vida da comunidade não está reduzida às celebrações litúrgicas. Iniciativas resultantes da Campanha da Fraternidade deveriam estender o seu alcance para além do tempo quaresmal, como forma de explicitar a solidariedade que resulta da adesão à vida cristã. Isso, contudo, sem jamais descuidar da mística que a origina e alimenta, para que nossas ações não se tornem vazias de um sentido espiritual.

 

Por muitos anos, propunha-se um repertório novo a cada Quaresma, com ênfase ao que era tema da Campanha da Fraternidade. Tal modo de proceder durou até a metade dos anos 2000, quando se optou apenas pela gravação de um Hino para a Campanha, publicado no mesmo material dos cantos quaresmais. Não é possível a consolidação de um repertório ritual para o Tempo da Quaresma se a cada ano a atenção se dirigia a um tema diferente. Repertório exige repetição, para que o rito internalize e se efetive como verdade da fé. Entretanto, apesar desse esclarecimento por parte da Igreja no Brasil, muitos insistem no uso inadequado do Hino da Campanha da Fraternidade nas celebrações, substituindo o canto de entrada ou algum outro momento ritual.

 

É preciso, portanto, deixar claro que o Hino da Campanha da Fraternidade não cumpre as exigências do que se espera de um canto litúrgico. Tem outra finalidade, como mobilizar as comunidades ao tema da Campanha, favorecer a participação e dar visibilidade às iniciativas dela decorrentes, mas não deve ser utilizado como parte do repertório litúrgico. Outra coisa é cantá-lo ao final da celebração, enfocando uma estrofe por domingo, ou entoar o seu refrão após as preces da comunidade, sem que se interfira diretamente nos momentos rituais, que já possuem a indicação de um canto adequado.

 

A Ladainha dos Santos

Além disso, também é preciso dedicarmos uma palavra ao uso da Ladainha dos Santos em substituição aos ritos iniciais, como tem sido praticado pelo Folheto Comunhão e Participação há alguns anos. Por um lado, muitos não entendem o motivo de tal inserção. Por outro, alguns não conseguem situar os ritos iniciais quando a Ladainha está presente, gerando alguma confusão junto à comunidade.

 

Em primeiro lugar, trata-se de um pedido de nosso arcebispo arquidiocesano, no uso legítimo de seu carisma junto à Igreja de Goiânia. A Igreja entende que o bispo local tem prerrogativas em termos de pastoral litúrgica, podendo orientar a respeito de algumas práticas a serem realizadas por toda a sua Igreja particular. Nesse caso, a introdução da Ladainha dos Santos em substituição aos ritos iniciais resulta dessa prerrogativa.

 

Entre outros motivos, visando favorecer o espírito quaresmal, a inserção da Ladainha quer romper com o ciclo ordinário das celebrações dominicais, sempre introduzidas por um canto de entrada, propondo o silêncio como forma de acesso à espiritualidade da Quaresma. Não é incomum encontrarmos comunidades barulhentas, em que o silêncio não possui nenhum espaço. Ao contrário disso, porém, não há espiritualidade quaresmal que prescinda ao silêncio, necessário à oração e à revisão da vida – que resultará em caridade com os que necessitam. Esse é, em suma, o primeiro motivo da retirada do canto de abertura e sua substituição pela Ladainha.

 

Além disso, ao evocarmos o testemunho dos santos, colocamo-nos na continuidade de uma tradição que nos antecede e que certamente durará além de nós. Os santos representam a comunhão com toda a Igreja, na partilha da fé e da oração. De maneira particular, no Tempo da Quaresma, são como luzeiros a nos indicar o caminho da graça, pela autêntica conversão e transformação da vida. É o rito todo que se modifica, motivo pelo qual, quando há a Ladainha, não se realizam os ritos iniciais em sua forma ordinária, passando imediatamente à Oração – como indicado no Folheto.

 

Enfim, ao entoarmos a Ladainha dos Santos durante os domingos da Quaresma, repetimos um antigo rito, propagado pelas comunidades cristãs dos primeiros séculos, as quais se reuniam e caminhavam em conjunto de suas Igrejas sufragâneas para as sedes das comunidades, para celebrar a Eucaristia. Enquanto caminhavam, entoavam a Ladainha dos Santos, respondendo a cada invocação com o Kyrie Eleison. Trata-se, então, de um canto eminentemente penitencial e comunitário, fortalecido pela atitude de adentrar o Templo. Por isso, onde for oportuno, toda a comunidade é convidada a entrar em procissão, não apenas o celebrante, reforçando o gesto ritual que acompanha a Ladainha.

 

O uso dos instrumentos musicais

Por último, também gostaríamos de dedicar uma breve palavra ao uso dos instrumentos musicais e microfones durante o tempo quaresmal. A sobriedade exigida dos ornamentos do Templo deve ser estendida também aos instrumentos que, ao longo de toda a Quaresma, irão traduzir o recolhimento e o silêncio necessários à oração. Não que sejam proibidos, mas há que utilizá-los com redobrado bom senso. Alguns instrumentos, como a bateria e demais instrumentos de percussão, parecem não combinar com o espírito quaresmal. Outros, como o violão, a guitarra, o teclado, devem estar com volume moderado, sem sobressair às vozes e ao canto da comunidade. O mesmo podemos dizer a respeito dos microfones, que devem ser utilizados com absoluto critério, sem ofuscar o brilho daqueles que são os reais sujeitos da celebração: a assembleia, congregada como Corpo Místico de Cristo.

 

Por último, não se vive a Quaresma apenas durante as celebrações. Que o silêncio e a moderação, que o espírito de oração e de penitência também abundem em nossa vida cotidiana, de modo que a fé celebrada seja alimento para a fé vivida.

Para Lembrar

 

 

 

O Hino da Campanha da Fraternidade não cumpre as finalidades de canto litúrgico e, por isso, não deve ser utilizado como canto de entrada. 

A Ladainha dos Santos está inserida em substituição aos ritos iniciais em sua forma ordinária. Convida ao silêncio e à adesão à comunidade de fé.

Os instrumentos musicais devem ser utilizados com critério durante o tempo quaresmal, especialmente no tocante ao seu volume.

 

 

 

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