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Carta de Dom João Justino aos presbíteros

Carta de Dom João Justino aos presbíteros

Goiânia, 6 de abril de 2023. Quinta-feira da Ceia do Senhor     Hoje é um dia muito especial para

Goiânia, 6 de abril de 2023.
Quinta-feira da Ceia do Senhor

 

 

Hoje é um dia muito especial para nós que somos ordenados. Pode-se dizer que foi na Quinta-feira da Ceia do Senhor que se originou nosso ministério de presbíteros. Nasceu ao redor daquela mesa em que Jesus celebrou a Ceia Pascal com seus discípulos e instituiu a Eucaristia, dizendo a eles: “Fazei isto em memória de mim” (cf. Lc 22,19). Nasceu naquele movimento de Jesus de surpreender seus discípulos, pondo-se a lavar os pés de cada um deles. Queria Jesus que seu gesto fosse modelar: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,15). Mais ainda, naquele mesmo encontro ele, ternamente, deixou-lhes um apelo: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35).

 

A leitura orante dos textos da instituição da eucaristia e do lava-pés me inspirou a escrever-lhe esta carta. Faço-o baseado no lugar da paternidade, dimensão do ministério episcopal que a Igreja me confiou. Faço-o movido pela gratidão ao senhor que tem demonstrado de modo muito especial a comunhão com o meu ministério, abraçando de fato a sua missão de colaborador da ordem episcopal, como pede a oração consecratória da ordenação de presbíteros. Agradeço desde já seu zelo de cuidar da(s) missão(ões) que lhe confiamos.

 

O ministério do padre encontra suas raízes nos acontecimentos deste dia. Que mistério! Contemplando as cenas da instituição da eucaristia e do lava-pés, entre tanto que delas se pode dizer, vemos que o ministério da presidência da eucaristia, mais tarde identificado como ministério sacerdotal, originou-se num modo coletivo. Isto é, naquele cenáculo Jesus estava com os Doze. E todos eles participaram daquele momento identificado como instituição da eucaristia e do ministério sacerdotal. Poderíamos ver aí, também, a instituição do presbitério? Cremos que sim. Mesmo sabendo que a ordenação é pessoal, que o bispo realiza a imposição de mãos sobre cada um e que o exercício dos múnus de ensinar, santificar e pastorear é sempre pessoal, nada disso se realiza sem o sentido de pertença à ordem presbiteral, com seus desdobramentos fundamentais de comunhão com o bispo diocesano, com os irmãos presbíteros e com os próprios leigos e leigas. É oportuno retomar a meditação de São João Paulo II na sua Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, quando de maneira tão lúcida ele afirma: “O ministério ordenado tem uma radical ‘forma comunitária’ e pode apenas ser assumido como ‘obra coletiva’” (nº 17).

 

Ao ler “forma comunitária” e “obra coletiva” penso no conjunto das cenas da eucaristia e do lava-pés, celebrações que presidiremos logo à noite em nossas comunidades. Ponho-me a meditar nas consequências da nossa fé e da nossa vocação, do testemunho que somos todos chamados a dar: cuidemos, especialmente, da fraternidade entre nós, membros do presbitério. Falo disso, antes de tudo, com base no sentido bíblico-sacramental, teológico-litúrgico. Há profundas relações entre eucaristia, serviço fiel ao povo de Deus e fraternidade presbiteral. “Forma comunitária” e “obra coletiva” são cuidadosas expressões de São João Paulo II a pontuar que não há nem sentido nem espaço para o ministério presbiteral de modo isolado, independente, autorreferenciado.

 

Convido-o, caro padre, a contemplar comigo a beleza do rosto de nosso presbitério. Ao cumprimentá-lo pelo dia de hoje, uno-me à sua história pessoal nesta Igreja Particular de Goiânia. Fomos chamados a viver juntos à esta porção do Povo de Deus e a servi-la com o coração sempre mais identificado com o de Jesus Mestre, Sacerdote e Pastor. A missão não é minha ou sua, mas de todos nós. E cada um de nós oferece de seus dons e talentos para que o Evangelho seja anunciado, Jesus Cristo seja conhecido e amado, a Igreja realize sua missão de evangelizar e servir e a nossa sociedade se torne mais justa e solidária a caminho do Reino definitivo.

 

Olhando para o nosso presbitério, encanta-nos a história dos padres mais idosos. Alguns deles deixaram seus países para servir entre nós. Vêm à memória Mons.  Jean Auguste Louis Biraud, Mons. Lino Dalla Pozza e Mons. João Daiber, grandes e generosos missionários que têm deixado marcas inesquecíveis nesta Arquidiocese. Há, também, os idosos filhos deste chão ou que aqui escolheram para servir como padres. Deixam eles lembranças vivas de um devotado serviço ao Povo de Deus: permitam-me citar Mons. Aldorando Mendes dos Santos, Mons. Leônidas Rodrigues Pereira, Mons. Ademário Benevides de Souza, Pe. Fiorelo Collet, Pe. José Luiz de Mello e Pe. Nilo Pisaneschi, todos eles com mais de 80 anos de vida. Quando me lembro dos padres religiosos, recordo-me da visita ao Convento Nossa Senhora do Perpétuo Socorro onde se encontram alguns missionários redentoristas que tanto serviram e servem, segundo suas possibilidades, a Igreja.

 

Recordando-me de Pe. Clóvis de Jesus Bovo, CSsR; Pe. Henrique Jacoby Sthehl, CSsR; Pe. Gregório Batista, SDB; e Frei Lourenço Maria Papin, OP, padres religiosos com mais de 90 anos, deixo registrado meu agradecimento a todos os religiosos, de todas as idades, que vivem sua consagração religiosa em nossa Arquidiocese de Goiânia. Na história de cada sacerdote idoso, seja ele diocesano ou religioso, encontra-se a certeza do quanto é bom cultivar a memória daqueles que nos precederam e ofereceram suas vidas para que hoje estivéssemos aqui a continuar a missão que o Senhor nos confiou. Nosso povo não se esquece dos padres que cuidaram zelosamente de nossas comunidades e paróquias. Nem nós podemos nos esquecer deles.

 

Alegra-nos a chegada de novos irmãos formados e ordenados aqui na Arquidiocese. Na última década foram ordenados 23 padres. Louvamos a Deus pelas iniciativas vocacionais, pelo apoio das comunidades aos jovens candidatos ao ministério. Agradecemos a missão dos padres formadores que se dedicam ao acompanhamento dos jovens seminaristas em meio aos mais complexos desafios da contemporaneidade. Ninguém se esqueça de que os jovens admitidos para nossos seminários são filhos deste tempo, desta cultura. Não existem manuais com exatidão para lidar com o universo humano-espiritual. Temos a Tradição que é viva e nos desafia a reinterpretá-la à luz dos sinais dos tempos. Alenta-nos a esperança de que os jovens padres têm muito a oferecer de si mesmos para a bonita história de nossa Arquidiocese. E um traço fundamental há de ser o desejo de participar do corpo presbiteral, qual comunidade ministerial especialista em viver e trabalhar segundo o espírito comunitário.

 

Somos agradecidos aos padres que por colaboração interdiocesana servem nossa Arquidiocese. Recordo-me de cada um deles e de suas dioceses de origem, verdadeiras igrejas irmãs.

 

Lembro-me dos padres que foram acolhidos e incardinados na Arquidiocese. Atualmente, temos 18 padres, sendo nove diocesanos e nove religiosos, que pediram e foram acolhidos para experiência na Arquidiocese, tendo em vista uma futura incardinação. Todos eles foram nomeados para alguma missão. Merecem nossa acolhida, dedicação e amizade. O tempo vai ajudar cada um deles no seu discernimento e a nós, Igreja diocesana, que oportunamente deveremos dar uma resposta definitiva sobre a incardinação deles.  

 

Quando contemplo, sobretudo na oração, os diversos lugares em que se encontram os padres de nosso presbitério, tento elencar a diversidade das missões. Para além dos locais diferentes, que incluem os centros urbanos, as periferias, as pequenas cidades do interior e as comunidades rurais, tenho presente outras situações que contam com o generoso serviço dos padres: escolas, universidades, salas de aula, instituto de filosofia e de teologia, instituto de direito canônico, hospitais, consultórios, rádios, televisão, redes sociais, formação presbiteral, coordenação e assessoria de pastorais, acompanhamento de associações e movimentos eclesiais, chancelaria, cúria, vicariatos, tribunal eclesiástico, capelanias de instituições, de conventos e mosteiros, direção de obras sociais, em estudos de pós-graduação aqui ou noutros países, no governo diocesano e das congregações e ordens religiosas… Cada padre que está aqui ou ali, está em nome de todos. Cada um está oferecendo com base em seus dons e carismas. A obra é coletiva, como dizia São João Paulo II. Apoiemo-nos uns aos outros.

Reconhecemos que há alguns padres com rostos sofridos e histórias feridas. Por razões diferentes depararam-se com dificuldades mais intensas, ora de saúde ora vocacionais, por exemplo. Nosso Senhor conhece o coração de cada um deles e os acompanha, porque não quer que nenhum deles se perca (cf. Jo 6,39). Nós, também, bispos e padres, queremos e devemos fraternalmente acolhê-los, acompanhá-los, escutá-los, “lavar-lhes os pés”. Não nos esqueçamos de Simão Pedro. Ele, sinceramente, caiu aos pés do Senhor, confessando-se pecador (cf. Lc 5,8). E, com seu jeito impulsivo, nem queria que o Senhor lavasse seus pés (cf. Jo 13,8). Mas não houve outro caminho nem para ele nem para nós. O Senhor, não obstante nosso pecado, escolheu-nos. Pacientemente, com o dom do seu Espírito, ampara-nos na cotidiana tensão espiritual da conversão. Também, não deixemos de orar por aqueles presbíteros que foram demitidos do estado clerical. E, com sabedoria evangélica, saibamos integrar e contar com aqueles que pediram a dispensa do ministério para assumir outro estado de vida.

 

É preciso dizer que em todo o mundo temos vivido momentos delicados da vida de alguns presbíteros. Alguns se descuidam demasiadamente de sua vida espiritual. Outros se arriscam em caminhos tortuosos que logo trazem sofrimento para muitos. Há aqueles que se enfraquecem porque se afastam e perdem o encanto da resposta vocacional. Após a escuta da maioria dos padres da Arquidiocese, começamos a construir um projeto de Pastoral Presbiteral apresentado em nossa última assembleia. Ele se alicerça em três pilares: 1) Marcando PRESENÇA; 2) Exercitando a ESCUTA; 3) Cuidando da SAÚDE INTEGRAL. Quero lhe pedir todo empenho de sua parte para levarmos este projeto adiante. Só teremos a ganhar. Conto com o senhor.

 

Meu irmão, é um fato que sofremos a escassez das vocações para o ministério presbiteral. A Arquidiocese de Goiânia conta neste ano com 24 candidatos, sendo quatro seminaristas menores, seis propedeutas, sete no discipulado (etapa da filosofia), cinco na configuração (teologia), dois em experiência missionária. Sob o ponto de vista do chamado vocacional é uma bênção contar com a resposta em curso de cada um desses jovens. Nosso desejo é que todos aprofundem o discernimento e abracem a vocação para a qual o Senhor os chama. Poderá, inclusive, não ser a vocação presbiteral. Assim, temos de insistentemente trabalhar em favor das vocações ao ministério do padre, seja diocesano seja religioso. Peço, de sua parte, que cuide da abordagem direta e pessoal de jovens que poderiam iniciar um processo de discernimento vocacional. Apoie, também, as Equipes Vocacionais Paroquiais (EVPs), importante trabalho para o despertar de todas as vocações.

 

Agora, querido padre, no contexto deste ANO VOCACIONAL, quero formular um especial pedido em favor das vocações. Esse pedido se desdobra em dois. O primeiro: peço que o senhor oriente suas comunidades e equipes de liturgia a rezar em todas as missas, a partir do Domingo do Bom Pastor deste ano, a oração pelas vocações. Poderá ser ao final das preces comunitárias, melhor opção por se tratar de uma súplica. Ou após a oração pós-comunhão. O texto mais conhecido, inclusive cantado, é: “Enviai, Senhor, muitos operários, para a vossa messe; pois a messe é grande, Senhor, e os operários são poucos”. O segundo pedido: que o senhor introduza em sua igreja paroquial (e nas comunidades onde for possível) uma Hora semanal de Adoração Eucarística pelas Vocações, preferencialmente às quintas-feiras. Não é difícil encarregar grupos que possam abraçar essa missão. Mas eu pediria ainda mais. Organize-se, também, o senhor para participar dessa Hora de Adoração na intenção das Vocações. Eu creio que as palavras de São João Paulo II são verdadeiras: “A vocação é a resposta de Deus a uma comunidade orante”. Recuperemos esse zelo de orar pelas vocações. Há muitos subsídios que poderão ser utilizados. Pedi ao Serviço de Animação Vocacional (SAV) da Arquidiocese para atualizar e reimprimir o roteiro de Horas Santas Vocacionais publicado em 2013.

 

Querido padre, esta carta foi escrita por mim. Mas tem a adesão de Dom Levi e Dom Washington. Eles aceitaram assinar comigo esta carta. Eu não poderia deixar de agradecê-los por todo zelo e empenho episcopais em favor de nossa Arquidiocese. Quero muito o bem deles e quero de sua parte toda a expressão de comunhão e cuidado com eles.

 

Receba agora nossos votos de Feliz e Santa Páscoa. Que a renovação de suas promessas sacerdotais nesta Quinta-feira Santa seja mais uma oportunidade de o senhor agradecer a Deus o dom de seu ministério e prontamente dizer: Sim, quero servir a Igreja de Goiânia em profunda comunhão com os bispos, com meus irmãos presbíteros, com os diáconos, com os consagrados e consagradas, com os leigos e leigas. Amém.

 

Nossa Senhora Auxiliadora e seu esposo São José intercedam em favor de nosso presbitério.

 

+ João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano

 

+ Levi Bonatto 
         Bispo Auxiliar          

 

 + Washington Cruz
  Arcebispo Emérito

                                                                        

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