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29/01/2021
O que diz o papa Francisco sobre as vacinas contra a Covid-19
Luzes de Esperança
No dia 13 de janeiro, o papa Francisco e o emérito Bento XVI receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19. Eles foram os primeiros a receber o imunizante durante a campanha de vacinação que aconteceu no Vaticano. Dias antes, o papa Francisco concedeu entrevista ao programa Tg5 da televisão italiana, na qual ele afirmou que seria vacinado. Ao ser questionado sobre as vacinas, Francisco afirmou que se trata de “uma ação ética, porque está em risco a sua saúde, a sua vida, mas, também, a vida dos outros.”
Já na Mensagem e Bênção Urbi et Orbi, (à cidade de Roma e ao mundo) que ele concede tradicionalmente no Natal, o Santo Padre declarou que as vacinas são luzes de esperança. “Hoje, neste tempo de escuridão e incertezas pela pandemia, aparecem várias luzes de esperança, como a descoberta das vacinas”. O primeiro pensamento do papa foi direcionado às pessoas mais frágeis, aos doentes e a todos que, neste tempo se encontram desempregados ou em graves dificuldades pelas consequências econômicas da pandemia, “bem como às mulheres que nestes meses de confinamento sofreram violências domésticas.”
No Brasil, o processo de vacinação começou no dia 17 de janeiro, logo após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conceder o aval para o uso emergencial das vacinas do Butantan e da Fiocruz/AstraZeneca. Até a tarde do dia 27 de janeiro, o país tinha ultrapassado mais de 1 milhão de pessoas vacinadas com a primeira de duas doses do imunizante que está sendo aplicado nesta primeira etapa - apenas a parcela da população mais vulnerável à doença: profissionais de saúde, quilombolas, indígenas e idosos em instituições de longa permanência.
A imunologista Ana Paula Junqueira Kipnis, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (UFG), afirmou em entrevista que a vacina é uma esperança para a humanidade. “As vacinas desenvolvidas trouxeram a esperança de que a pandemia vai terminar em um período mais curto, mas nós ainda teremos um certo tempo para que a doença seja controlada”. Ela destacou o exemplo de Israel que já vacinou a maior parte de sua população. “Com o número de indivíduos que já vacinou, aquele país reduziu em 60% a infecção pela covid-19”, afirmou.
Embora estejamos em um cenário tenso, sobretudo no Brasil em que muitos falam em não tomar a vacina, a imunologista disse que não há motivo para pavor e medo. Ana Paula explicou como é calculada a eficácia das vacinas. “O que deve ser feito numa pandemia? É preciso reduzir o número de pessoas que vão ser hospitalizadas, reduzir o número de pessoas que vão morrer pela doença. Então, a eficácia nesse momento não foi calculada para a pessoa não ter a doença, mas, caso ela tenha, que não seja hospitalizada e que não corra o risco de morrer. A eficácia das vacinas que temos para a covid-19 diz o seguinte: a CoronaVac tem 50,3% de eficácia, então 50,3% das pessoas que foram vacinadas não vão adquirir covid de maneira nenhuma. Aquelas que adquirirem que estão na outra ponta não vão ter a doença grave, não vão ser hospitalizadas e isso já melhora os índices, aumenta a probabilidade de a pessoa não morrer pela doença, enquanto que a vacina da AstraZeneca tem 70% de eficácia. Isso quer dizer que 70% da população que toma a vacina não contrai a doença e os outros que contraem não terão a sua forma grave”.
Com relação aos riscos da vacina contra a covid-19, a cientista afirmou que não há nenhum perigo. “A vacina não altera o DNA, nem faz modificação em quem a recebe. A única coisa que ela faz é induzir uma resposta imune contra o vírus. A CoronaVac é feita por um adenovírus modificado, que não replica em você, ele só entra no corpo e logo morre, mas, antes de morrer, ele mostra para o corpo as proteínas do coronavírus. Isso faz com que o sistema imune pense que é o próprio vírus infectando, assim, o corpo dá uma resposta imune melhor. Enquanto que a da AstraZeneca é o próprio vírus que causa a covid-19, mas esse vírus é morto, num sistema de produção que garante que nenhuma partícula viral saia viva da vacina. Quando injetada no músculo, isso faz com que o organismo pense que, em algum momento, a célula viu esse vírus, mas, na verdade, é só o vírus morto e isso faz montar uma resposta imune”.
Preocupação
Ana Paula vê com preocupação o processo de aquisição das vacinas. Segundo ela, o país demorou muito para adquirir as suas, enquanto outros países se organizaram antes. Diante disso, o processo de fabricação é priorizado para aqueles que chegaram primeiro. “Uma planta de vacinas consegue fazer determinado número delas. Não há tempo suficiente a fim de começar a construir uma planta agora para produzir para a pandemia, neste momento. Mesmo que se tenha dinheiro não há onde comprar, porque a produção está comprometida com quem comprou antecipadamente e confiou nas vacinas. Num momento muito próximo não haverá vacinas para todos os brasileiros. Por isso, precisamos continuar usando máscara, mantendo o distanciamento e evitando aglomeração”.
Ao fim da entrevista, a imunologista comentou as palavras do papa Francisco de que as vacinas são luzes de esperança. “Ter vacina traz um alento. Se os cientistas não tivessem conseguido produzi-la a tempo, eu temia por uma doença que iria dizimar grande parte da população. Já imaginou uma população sem os idosos, sem qualquer pessoa que tenha outra doença de base? Nós seríamos uma população totalmente destruída. Realmente é uma graça divina os cientistas terem desenvolvido a vacina e elas terem tido algum efeito, porque, ao longo dos anos, os cientistas têm tentado fazer muitas vacinas e isso tem sido difícil”. Eu, por exemplo, trabalho com vacinas há 20 anos, tentando fazer uma nova vacina para a tuberculose. Tenho uma que é promissora, mas ela não pode, ainda, ser testada em humanos. Ter tido essa oportunidade e ter tido várias vacinas que funcionam realmente é uma graça, uma esperança e nós vamos conseguir. Todos têm que ter em mente que nenhuma vacina usada até hoje conseguiu eliminar uma doença de uma vez. É um processo lento”.
Fúlvio Costa