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23/06/2023
A Custódia de Toledo
A Eucaristia é centro e a fonte da nossa fé. Foi o Papa Urbano IV que instituiu a segunda maior festa do cristianismo, a solenidade de Corpus Christi (a festa do Corpo de Cristo). A custódia ou ostensório, como nós conhecemos, é uma peça litúrgica que surge a partir da criação dessa solenidade com a função de expor o Santíssimo Sacramento durante a adoração pública.
Os primeiros ostensórios eram singelos, mas aos poucos passaram a ser mais elaborados, ornados e rebuscados, tornando-se verdadeiras obras de arte. Um exemplo disso é a grande custódia de Arfe, considerada como uma joia da arte cristã.
Em 1505, a Catedral de Toledo, na Espanha, adquiriu um ostensório portátil da rainha Isabel “a católica”. A peça feita em ouro, resultado do trabalho de um ourives catalão. Dois séculos depois, a Catedral realizou um concurso para a execução de um trono para abrigar esta custódia de origem real e o vencedor foi o ouvires alemão, Enrique de Arfe.
A peça litúrgica em formato de torre é um minitemplo gótico. Sua estrutura decorativa é complexa e revela a delicadeza e inteligência do artista ao planejar uma obra de 3,10m de altura, com 1,07m de largura. Feita em prata dourada e ouro, ela é composta por 12.500 parafusos, 5.600 peças, 270 estatuetas e inúmeras pedras preciosas que contam a história da salvação do Antigo Testamento até o triunfo da ressurreição.
A base é hexagonal e é decorada com os brasões dos arcebispos de Toledo e as seis cenas da Paixão de Cristo. O centro é o espaço destinado ao Santíssimo Sacramento, que é definido por seis colunas góticas de dois metros de altura com imagens de santos, as quais sustentam o forro ogival com pedras preciosas e sinos. Sobre este forro temos um pequeno templo que abriga o Cristo Ressuscitado ao centro; sobre as figuras dos apóstolos e santos e acima uma cruz de esmeraldas, símbolo da cruz da vitória.
O seu valor artístico é reforçado pelo símbolo de fé que expressa, evidenciado quando a custódia foi exposta no pavilhão da Santa Sé, na Exposição Universal de Sevilha (1992). Mesmo sem a Eucaristia exposta para a adoração, as funcionárias da limpeza do pavilhão, sempre que passavam na frente da custódia se ajoelhavam. Intrigados com o gesto de reverência ao nada, os vigilantes indagaram a uma destas funcionárias que respondeu: “Não está lá, mas já esteve” (Boletim Nártex, nº 15, Verano 2011).
Esta obra de arte e de fé fica guardada na Sala do Tesouro da catedral em uma estrutura feita especificamente para sua conservação e proteção. Os fiéis e toda a população presente podem contemplar esta beleza, anualmente, na procissão da solenidade de Corpus Christi, exercendo com maestria a função para a qual foi criada, de exaltar com honra e glória a Santa Eucaristia, revelando a presença real de Jesus Cristo entre nós.
Fabiana Longhi
Arquiteta Especialista em Espaço Litúrgico e Arte Sacra
Longhi Arquitetura – Arquitetura do Sagrado
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