Queridos irmãos e irmãs,
Desde a manhã do domingo da ressurreição de Jesus, ressoa de um lado ao outro da terra esta mensagem de esperança: “Cristo venceu, aleluia”. Por isso, todos os anos, desde imemorável data, a Igreja canta, na Proclamação da Páscoa, o Precônio Pascal:
Exulte o céu e os anjos triunfantes
Mensageiros de Deus, desçam cantando
Façam soar trombetas fulgurantes
A vitória de um rei anunciando
Ao encarnar-se, o Filho de Deus “assumiu as nossas fraquezas, e as nossas dores, ele as suportou” (Is 53,4). Em verdade, ao carregar a cruz, Cristo levou sobre si o pecado da humanidade. Morrendo na cruz, ele destruiu o pecado e o sepultou consigo, salvando-nos da condenação decretada pela nossa infidelidade. Por isso, a Igreja ainda canta:
Pois, eis, agora a Páscoa, nossa festa
Em que o real cordeiro se imolou
Marcando nossas portas, nossas almas
Com seu divino Sangue nos salvou
Ao terceiro dia, Jesus ressuscitou e, com sua ressurreição, deu nova vida a todos os homens de todos os tempos. Sua ressurreição é um potente facho de luz que ilumina o homem que jazia nas trevas, é a força que faz o ser humano passar da morte para a vida, é o penhor que redime a criatura desviada e a une ao seu Criador. Ressoam, com força, as palavras do Precônio:
Ó noite de alegria verdadeira
Que prostra o faraó, e ergue os Hebreus,
Que une de novo o céu e a terra inteira
Pondo na treva humana a luz de Deus
A partir de então, as portas da alegre união com Deus e da feliz comunhão de amor com ele estão abertas a todos aqueles que, pela fé que atua através da caridade, se unem ao Senhor Ressuscitado. Vinte séculos depois, também nós podemos viver esta experiência da Páscoa com Cristo e passar da morte à Vida e das trevas à Luz. Como os Apóstolos e demais discípulos que, trancados em casa por medo dos judeus, foram movidos a ir a todo o mundo e proclamar a Boa-Nova de Jesus depois do encontro com Ele Ressuscitado, também nós encontramos em Cristo a força para continuarmos e, sem temor algum, testemunharmos sua vitória sobre o mal e a morte.
Talvez hoje, mais do que nunca, em virtude desta emergência sanitária mundial que nos fez, providencialmente, estar em casa, podemos compreender o que viveram e sentiram os discípulos naqueles dias da paixão, morte e sepultura de Cristo: a aparente derrota de Jesus, a falsa ideia do fracasso de sua proposta, a dúvida a respeito da veracidade das suas promessas. Por outro lado, também podemos experimentar, como eles, o encontro com Jesus Ressuscitado na oração silenciosa e em família, no acompanhar piedoso das celebrações pelos meios de comunicação, no íntimo de nosso coração onde ele mesmo habita. Tal encontro não se dá, necessariamente, em data e hora marcada, como a celebração da Páscoa, mas com esse encontro experimentamos a veracidade da ressurreição do Senhor e a força que dela provém.
Assim, depois de um tempo encerrados, como que “mortos e sepultados” com Cristo, no silêncio dos nossos lares e de nossos corações, poderemos provar da força da sua ressurreição, que nos salva no hoje da nossa história, cooperando com a nossa conversão e no caminho de nossa santificação. Após este tempo providencial, como os discípulos, poderemos superar os umbrais de nossas casas e, com o Senhor, ganharmos o mundo anunciando “Cristo venceu”.
Desejo, de todo o meu coração, uma Santa Páscoa a todos, com todos os abundantes frutos de vida nova provindos da ressurreição de Jesus.
Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia