“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo”. (João 20, 1-9)
Nossa experiência da Quaresma deste ano, assim como ano passado (ou de modo mais cruel, talvez como ano passado), foi intensificada pela angústia e restrições causadas pela pandemia mundial, resultando em uma situação que muitos de nós jamais teríamos imaginado.
Com os decretos estaduais e municipais nos vimos muitas vezes distantes da Santa Missa de modo presencial, as nossas Igrejas com número reduzido de fiéis e com medidas para evitar a propagação de um vírus invisível aos nossos olhos.
Como viveremos esta Semana Santa mais este ano? Como celebrar a Páscoa quando nosso mundo virou de cabeça para baixo, sabendo que ainda enfrentaremos dias difíceis?
Tomemos como modelo Santa Maria Madalena, ela pode ser uma ajuda adequada durante a Semana Santa e a Páscoa porque, antes de conhecer Jesus, ela conheceu as trevas e a dor em um nível que a maioria de nós sequer pode imaginar: Jesus a curou de sete demônios.
Os Evangelhos não fornecem detalhes, então não sabemos muito sobre isso, mas deve ter sido uma experiência terrível de escuridão. Quando Jesus a curou, sua alma desesperada deve ter visto o primeiro vislumbre de esperança, uma esperança que floresceu quando ela se tornou uma seguidora de Jesus. Não sabemos quanto tempo Madalena acompanhou Jesus durante sua vida pública – um mês? um ano? – mas foi o suficiente para que aquela nova e frágil esperança criasse raízes em seu coração. No entanto, a dor avassaladora que sentiu no momento da crucificação de Jesus, sugere que o sofrimento e a morte de seu Senhor, reprimiram sua terna e recém-descoberta esperança. Ela vai visitar o túmulo de Jesus, não porque tem esperança, mas, porque carrega uma imensa tristeza.

A angústia de Maria Madalena ao testemunhar a execução de seu amado Mestre deixou nela uma marca tão profunda que ela é a primeira a visitar o túmulo de Jesus – “quando ainda estava escuro”. Interiormente, sua alma também deve ter estado no escuro. Maria está focada em seu túmulo: um lugar de morte, escuridão, perda. Seus olhos e seu coração estão tão obscurecidos que, inicialmente ela não se preocupa com a mensagem extraordinária dos anjos e nem mesmo reconhecerá Jesus ao vê-lo.
A Boa Notícia
Esta Páscoa é para nós! É especialmente para nós que, como Maria Madalena, estamos sobrecarregados de desilusão, tristeza, ansiedade, sofrimento, luto e desespero. Ao visitar o túmulo de Jesus, Maria Madalena descobre que, mesmo na morte, o Senhor não a abandonou. Embora ela ainda não possa vê-lo, Jesus está lá no escuro com ela e traz consigo o amanhecer. Aproximemo-nos também das trevas das nossas vidas, dos “túmulos” onde a esperança morreu, onde a alegria foi destruída, onde a fé é tão abalada que pensamos que não podemos mais apoiar-nos nela. Naquela primeira manhã de Páscoa, Maria Madalena demorou a reconhecer seu Amado Mestre no jardim; pode levar algum tempo para reconhecermos como Jesus está presente hoje, em nossas vidas e em nosso mundo.
Esta Páscoa é para nós! Na visita de Maria ao túmulo de Jesus, ela se apega à Fonte de sua esperança da única maneira que conhece. Seu túmulo pode ser o único lugar onde ela sente que pode guardar suas memórias e sentir alguma proximidade com o Senhor que ela pensa ter perdido. Ao ir ao túmulo, Maria ainda está se apegando ao Senhor o melhor que pode. E é com essa busca amorosa e perseverante do Senhor que Maria Madalena pode nos inspirar. Seu amor por Jesus vence, mesmo em cima de sua desesperança. A sua aparição junto ao túmulo permite-lhe receber os primeiros sinais do grande mistério da Ressurreição de Jesus: a pedra rolou, o corpo não está mais lá.
Esta Páscoa é para nós! Naquela primeira manhã de Páscoa, sem saber, Maria Madalena se envolve com o mistério, descobrindo o túmulo vazio e correndo para dar a notícia a Pedro e ao discípulo amado, embora ela não saiba o que essa notícia significa. Na sequência da narrativa do Evangelho de João, Maria está lá, do lado de fora do túmulo de Jesus, ainda chorando por terem tirado seu Senhor do túmulo. E é nesse momento que Jesus aparece a ela e seu túmulo se transforma, de um lugar de morte, em um jardim repleto de Vida. Ao finalmente reconhecer Jesus, Maria descobre que o amor de Cristo vence toda tristeza, toda dor, todo desespero, até a própria morte.
O Catecismo da Igreja Católica define a Ressurreição de Jesus como “a verdade culminante da nossa fé em Cristo” (§ 638). A ressurreição de Cristo é a promessa de Deus, do amor fiel de Deus, de que este mundo não é o cumprimento final do plano salvador de Deus para nós. A alegria eterna nos espera, e essa convicção transformam nossas experiências terrenas, não só nos dando esperança, mas também nos dando coragem para continuar a agir com amor, mesmo em meio a grandes sacrifícios e sofrimentos.
Neste ano de 2021, a Páscoa é a festa que nós mais precisamos. É um lembrete importante para nos tornarmos as Madalenas de hoje: buscar o Senhor, procurá-lo tanto em nossos “túmulos” quanto em nossos “jardins” recém-floridos; reconhecer a presença do Senhor Ressuscitado, que não nos abandonou, e permitir que ele nos transforme para que possamos levar Jesus conosco onde quer que estejamos; e apegar-se ao amor misericordioso de Deus, permitindo que a promessa jubilosa do seu abraço eterno de amor se torne sempre mais a nossa âncora de cada dia, permitindo-nos viver até os dias sombrios com serenidade, esperança, alegria e fé.
Fernanda Freitas