A Capela Sistina é mais que o local onde se realiza o conclave. A capela abriga a maior obra-prima do Renascimento e que consagrou Michelangelo como o grande artista renascentista: “Ele criou uma obra-prima cuja importância é verdadeiramente memorável” (H. W. Janson e Anthony F. Janson).
Segundo o professor Marcelo Gualuppo: “O teto da capela de um azul profundo retratava apenas uma noite estrelada. Júlio II queria um pouco mais de modernidade na capela”. O artista recusou o trabalho, mas papa Júlio II o convenceu. Durante 4 anos e há 21 metros de altura do piso, Michelangelo pinta 460m² de afresco sobre o Livro do Gênesis – da criação do mundo até Moisés.
O afresco retrata nove histórias bíblicas da criação e está divido em três grupos de painéis. É o quarto painel, o mais famoso, onde encontramos “A Criação de Adão”, uma das imagens mais famosas da história da arte, que se tornou um símbolo além das fronteiras religiosas, sendo muito utilizado, inclusive, pela publicidade, no século XX.
O ápice deste afresco está nos dedos de Deus e de Adão que quase se tocam. “(…) os dedos de ambos, o de Adão e o de Deus é expressado de forma suave e forte, para dar sentido do poder da criação. Observamos, na cena, que a centelha da vida está para acontecer, a magia do toque entre pai e filho” (Laura Aguiar).
Mas esta cena revela muito mais do que o surgimento da vida. Esses centímetros de distâncias entre os dedos de Deus e Adão, nos falam do livre arbítrio. “(…) pode-se ver no desenho que Deus fez tudo. Adão pode – não “deve”, mas “pode” – aderir livremente” (Marko Ivan Rupink, 2019).
Fabiana Longhi
Arquiteta
Especialista em Espaço Litúrgico e Arte Sacra
Longhi Arquitetura – Arquitetura do Sagrado