Querida irmã, querido irmão. Mais um pequeno trecho da primeira carta de São Paulo aos Coríntios é tomado para a liturgia desta quinta-feira da 22ª semana do tempo comum. No texto de hoje, o apóstolo São Paulo retorna ao tema da sabedoria humana, incapaz de penetrar no mistério de Deus. É uma insensatez, é uma ilusão, é um despropósito imaginar que com as suas meras capacidades o ser humano alcance a sabedoria divina e obtenha a salvação. Não se pode pensar que seja o homem a conquistar Deus. Mas é o contrário: é Deus que conquista o ser humano. Portanto, a verdadeira sabedoria é de outra ordem. Vem de Deus mesmo e somente Ele pode tornar alguém verdadeiramente sábio, derramando no coração do ser humano o seu Santo Espírito. Assim, adverte o apóstolo:
“Irmãos, ninguém se iluda: Se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus.” Neste sentido reconhecer a própria insensatez indica reconhecer os limites próprios do saber humano, para assim abrir-se à revelação de Deus. Paradoxalmente, só a atitude humilde de quem se reconhece infinitamente pequeno diante do mistério de Deus é que pode nos aproximar de Deus. Recorrendo a citações do Antigo Testamento, o apóstolo enfatiza como a sabedoria humana é sempre insuficiente e precária. Escute comigo como argumenta São Paulo: “Com efeito, está escrito: "Ele apanha os sábios em sua própria astúcia", e ainda: "O Senhor conhece os pensamentos dos sábios; sabe que são vãos".
Ora, se é assim, não há porque alguém gloriar-se de si mesmo, envaidecer-se por isto ou por aquilo. E nisso, o apóstolo é taxativo ao afirmar: “Portanto, que ninguém ponha a sua glória em homem algum”. O resultado é que cada um e todos estão a serviço da comunidade eclesial. Não há razões para enaltecer a alguns em detrimento de outros, ou de promover culto a personalidades. Todos estão a serviço da comunidade. E a comunidade pertence a Cristo e está, portanto, remetida a Deus. Assim diz São Paulo:
“Com efeito, tudo vos pertence: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro, tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. Com essas palavras somos chamados a meditar sobre a importância de acolher a todos os que ensinam a Palavra. Humanamente nos tornamos mais atentos e interessados aos que falam de modo eloquente e atraente. Há espaço sim para estes na missão da Igreja. Mas não é a eloquência do pregador que garante a fé. Antes, quanto mais o pregador deixa Cristo pregar, mais ele se esconde como o grão de trigo na terra para morrer e germinar, crescer e frutificar.
+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia