SÃO JOÃO DA CRUZ, PRESBÍTERO E DOUTOR DA IGREJA
Caríssima irmã, caríssimo irmão. Acabamos de escutar a proclamação do texto de Eclesiástico 48,1-4.9-11. Este texto está inserido na seção do livro que exalta figuras marcantes da história de Israel, particularmente os profetas. Aqui, o autor destaca Elias, apresentado como um homem de Deus, revestido de poder e de uma missão especial de restaurar a aliança entre Deus e o povo. A sabedoria de Ben Sirac traz uma interpretação teológica da atuação de Elias, mostrando-o como um exemplo de fidelidade, coragem e de participação no plano divino.
Elias é descrito com imagens de fogo e palavras flamejantes (“o profeta Elias surgiu como um fogo”), símbolos de sua missão profética ardente e de seu zelo pela aliança de Deus. Suas ações milagrosas, como a contenção da chuva e o enfrentamento contra os falsos profetas (cf. 1Rs 17–18), são apresentadas como demonstrações do poder de Deus operando através dele. A comparação com o fogo evoca também a purificação e o julgamento, elementos centrais em sua missão.
O arrebatamento de Elias em um carro de fogo (2Rs 2,11) é interpretado como uma marca de sua singularidade diante de Deus. Este evento, além de exaltar sua santidade, também o liga à expectativa messiânica de seu retorno, mencionado em Malaquias 3,23. Elias é visto como aquele que preparará o caminho para o “grande e terrível dia do Senhor”, reforçando sua missão de restaurar a aliança e reconciliar as gerações. *** “Felizes os que te viram…” (v. 11), diz o texto. A exaltação daqueles que testemunharam a grandeza de Elias reflete o impacto de sua vida e missão na história de Israel. Ele é apresentado como um modelo de fidelidade profética, que inspira esperança e confiança na intervenção de Deus. A menção à vida futura sugere um horizonte escatológico, vinculando Elias ao cumprimento das promessas divinas.
Podemos, então, concluir que o texto de Eclesiástico (48,1-4.9-11) hoje proclamado celebra Elias como uma figura profética que manifesta o zelo de Deus e a esperança messiânica. Sua vida é um testemunho do poder divino operando na história para purificar, reconciliar e renovar o povo de Deus. Para os cristãos, Elias aponta para a figura de João Batista e, em última instância, para Cristo, o cumprimento das promessas de restauração. Este texto nos convida a um zelo renovado pela fidelidade a Deus, pela reconciliação e pela esperança no cumprimento de Sua obra em nossa vida e no mundo. Na proximidade do Natal do Senhor, lembremo-nos de Elias, de João Batista e da dimensão profética da vida cristã, pois pelo batismo participamos do tríplice múnus do sacerdócio comum dos fiéis na missão de ensinar/profecia, santificar/sacerdócio, pastorear/cuidar da vida e da criação.