Prezada irmã, prezado irmão. Ouvimos mais um trecho da carta de São Paulo aos Efésios. Após o forte apelo à unidade, São Paulo prossegue afirmando que Cristo, ao ascender ao céu, concedeu uma diversidade de dons para capacitar os cristãos a edificar o corpo de Cristo: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Ef 4,7-12). Na sua primeira carta aos Coríntios, capítulo 12, São Paulo advertia os cristãos a não se deixarem dividir por esses dons; agora ele afirma que esses dons ajudam os 'santos' a alcançar a unidade da fé, na plenitude de Cristo, crescendo em direção a Ele, que é o cabeça do corpo (Ef 4,13-16). Cada um de nós recebeu a graça na medida em que Cristo lha deu (v. 7).

São Paulo agora fala sobre a construção da Igreja, graças à variedade dos dons e à participação de cada um na vitalidade do único corpo. Neste versículo, é ressaltada a origem única e generosa do dom dado a cada um. Nos versículos 8 a 10 São Paulo fala da ascensão vitoriosa de Cristo se tornando plenitude, depois de sua descida. São João Crisóstomo fala da synkatábasis, isto é, da condescendência de Deus em Cristo para nos salvar, sendo Ele o “médico das almas” (Homilia 40,3 sobre o Génesis).

Seguindo o estilo rabínico, a afirmação de fé é corroborada com uma citação bíblica (Sl 68,19). A fonte de todos os dons da Igreja é o Cristo glorioso, entronizado acima de todos os céus. No versículo 11 temos uma lista hierárquica de dons carismáticos dados por Cristo à Igreja: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Os apóstolos e os profetas são aqueles que tiveram um papel no nascimento da Igreja como comunidade fundada na acolhida do Evangelho. Trata-se do grupo dos enviados, ao qual pertence Paulo, e dos pregadores inspirados (os profetas).

Na mesma linha, estão os “evangelistas” como missionários ou catequistas itinerantes. Fecham a série aqueles que têm o papel de guia pastoral da igreja local: os pastores e mestres. O versículo 12 fala da preparação dos irmãos para o ministério, com o objetivo de edificar o corpo de Cristo. Dentro da Igreja local, haveria, portanto, dois grupos: o rebanho de Deus e os mestres que o guiam na construção do “corpo de Cristo”. Mas uns e outros são Igreja, vivendo a vocação até “que todos cheguemos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até o homem perfeito, até atingirmos a medida da plenitude de Cristo” (v. 13).

É admirável a criatividade divina na diversificação de dons, funções, tarefas, carismas e ministérios. Cada um de nós é um destinatário privilegiado da graça, o dom de Cristo: um presente personalizado, que deve ser recebido com confiança, colocado em prática com responsabilidade e continuamente compartilhado. Esse dom sempre terá uma única fonte e meta: Cristo, Filho de Deus e cabeça do corpo místico, que está em constante crescimento e amadurecimento, com a colaboração de cada membro, na caridade (Ef 4,16).

+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia