Minha prezada irmã, meu prezado irmão, eis-nos novamente com um texto tomado do nono capítulo da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, lido na liturgia de hoje. São Paulo trata nesta altura da sua carta da graça de sua vocação. Ele tem consciência de sua missão: pregar o evangelho! Isso ele o faz porque foi chamado. Não o faz porque escolheu por sua própria vontade, mas porque foi conquistado pelo amor de Jesus Cristo ressuscitado. Escute novamente:
“Irmãos, pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o evangelho! Se eu exercesse minha função de pregador por iniciativa própria, eu teria direito a salário. Mas, como a iniciativa não é minha, trata-se de um encargo que me foi confiado.” Portanto, São Paulo não se vê como um funcionário que se utiliza de habilidades da oratória em troca de um salário. Antes, ele se compreende como um escravo que obedece ao seu senhor e faz o que lhe apraz. É claro, seu Senhor é Jesus Ressuscitado que outrora São Paulo perseguia.
Convertido, sua vida não é trabalhar para ganhar as pessoas para Cristo. Confira: “Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça, sem usar os direitos que o evangelho me dá. Assim, livre em relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível”. São Paulo vive um total despojamento. Não se trata apenas de abrir mão de um salário. Mas de procurar fazer tudo por causa do evangelho. Veja como ele fala disso: “Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele.”
E na sequência de seus argumentos, o apóstolo utiliza de imagens dos esportes que aconteciam em Corinto para falar de seu empenho pessoal. Ele, como os esportistas e atletas, deve estar treinado, disciplinado, para pregar com foco, para utilizar suas energias em favor do evangelho, e não se distrair do anúncio da boa nova. As imagens são belas e merecem mais uma vez nossa atenção. Escute:
“Acaso não sabeis que os que correm no estádio correm todos juntos, mas um só ganha o prêmio? Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio. Todo atleta se sujeita a uma disciplina rigorosa em relação a tudo, e eles procedem assim, para receberem uma coroa corruptível. Quanto a nós, a coroa que buscamos é incorruptível! Por isso, eu corro, mas não à toa. Eu luto, mas não como quem dá murros no ar. Trato duramente o meu corpo e o subjugo, para não acontecer que, depois de ter proclamado a boa-nova aos outros, eu mesmo seja reprovado”. São Paulo não se sente constrangido, mas impelido pelo amor de Cristo. Eis o segredo: "a liberdade cristã nasce do amor e se exerce no amor. E o amor se prolonga como dom". Medite sobre isso.
+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia