Minha cara irmã, meu caro irmão. Continuamos a meditar trechos da primeira carta de São Paulo aos Coríntios. São trechos tomados pela liturgia como primeira leitura. Nesta terça-feira da 23ª semana do tempo comum escutamos a leitura do capítulo seis, versículos 1 a 11. O apóstolo São Paulo trata de um outro abuso, por ele assim considerado: o fato de que membros da comunidade eclesial de Corinto levem para a justiça dos homens as querelas ocorridas entre eles. Dessa forma, expõem o nome da comunidade cristã e faltam com a caridade.
Ele inicia o texto dizendo abertamente da questão: “Irmãos, quando um de vós tem uma questão com um outro, como se atreve a entrar na justiça perante os injustos, em vez de recorrer aos santos? Será que ignorais que os santos julgarão o mundo? Ora, se o mundo está sujeito ao vosso julgamento, seríeis acaso indignos de deliberar e julgar sobre questões tão insignificantes?” O autor da carta deplora o fato de que havendo querelas entre os membros da comunidade, não haja quem de modo sensato e prudente possa contribuir para a resolução do conflito. A esperança é de que uma comunidade de fé madura e consistente na vivência dos valores do evangelho seja capaz de resolver as contendas que surgem entre seus membros sem ter de levar tais demandas a juízes pagãos. Ele diz isso de modo explícito. Escute novamente:
“Será, então, que aí entre vós não se encontra ninguém sensato e prudente que possa ser juiz entre irmãos? Ao invés disso, irmão contra irmão vai a juízo, e isso perante infiéis!” Na perspectiva do Reino, isto é do evangelho de Jesus Cristo, os valores são outros. É melhor sofrer injustiças do que cometê-las. Ele indaga assim: “Aliás, já é uma grande falta haver processos entre vós. Por que não suportais, antes, a injustiça? Por que não tolerais, antes, ser prejudicado? Pelo contrário, vós é que cometeis injustiças e fraudes, e isso contra irmãos! Porventura ignorais que pessoas injustas não terão parte no reino de Deus?”
Ora, para São Paulo, a Igreja é uma fraternidade reunida no amor de Cristo, e como tal, é chamada a oferecer ao mundo um testemunho concreto de como viver as relações interpessoais marcadas pela benevolência, pela honestidade, pelo senso de justiça. Isso, porque membros da Igreja, e portanto, do corpo de Cristo, os cristãos devem viver e agir de modo novo. Finalmente, São Paulo recorda: “Mas fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus.” O batismo é a referência de um novo estilo de vida. Todo batizado há de contribuir para que o mundo creia na força do evangelho.
+ Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano de Goiânia