3º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Minha prezada irmã, meu prezado irmão. Chegamos ao terceiro domingo do tempo comum. E a primeira leitura é tomada do livro de Neemias. Este livro faz parte do conjunto de escritos pós exílicos e relata o retorno dos judeus a Jerusalém, após o cativeiro babilônico, e o processo de restauração da cidade e de sua vida religiosa. Neemias, o governador, junto com Esdras, o sacerdote e escriba, desempenha um papel central na reconstrução da identidade religiosa do povo de Israel. O capítulo 8 descreve um momento importantíssimo em que o povo se reúne para ouvir a leitura da Lei de Moisés.
Este episódio ocorre no sétimo mês, um tempo de festividades e renovação para o povo de Israel, e ilustra como a Palavra de Deus tem um papel central na reconstrução da identidade e da comunhão com o Senhor. A leitura da Lei é acompanhada de explicações e interpretações, de modo a permitir que o povo compreenda corretamente a Palavra e se comprometa a viver de acordo com ela. Alguns pontos são centrais neste texto:
1º) A Leitura da Lei (8,2-4a). Neemias 8 começa com a convocação do povo para ouvir a leitura da Lei. Esdras, o escriba, sobe a um lugar elevado e começa a ler em voz alta diante de todos. O gesto de Esdras de ler publicamente a Lei destaca a centralidade da Palavra de Deus no processo de restauração religiosa. O fato de o povo se reunir para ouvir a leitura indica um desejo de voltar à fidelidade a Deus e à Sua Palavra, após o período de exílio e desintegração espiritual.
2º) Reação do povo e proclamação de louvor (8,5-6). Quando Esdras abre o livro da Lei, todos os presentes se levantam em sinal de respeito à Palavra. Este gesto de reverência demonstra a atitude de veneração diante da presença de Deus manifestada na Sua Palavra. Ao abrir as escrituras, Esdras bendiz o Senhor, e o povo responde com um grande “Amém, Amém” e com a expressão de adoração, erguendo as mãos. A adoração do povo é uma reação à revelação de Deus e à Sua Palavra.
3º) Explicação e Interpretação da Lei (8,7-8). Após a leitura da Lei, os levitas e outros líderes religiosos se dedicam a explicar e a esclarecer o que foi lido, para que o povo pudesse compreender o sentido profundo e prático da Lei de Deus. Essa ação de interpretação sublinha a importância do ensino e da explicação das Escrituras, especialmente quando o povo, após o exílio, podia não ter familiaridade com os textos sagrados.
4º) O povo chora, mas recebe a alegria de Deus (8,9-10). Quando o povo ouve a leitura e a explicação da Lei, muitos começam a chorar, reconhecendo seus erros e a distância que haviam caído em relação à aliança com Deus. No entanto, Esdras e Neemias instruem o povo a não chorar, mas a se alegrar, pois “o dia é santo ao Senhor” (8,10). O choro, embora seja um sinal de arrependimento, não deve levar à tristeza paralisante. Ao contrário, a alegria do Senhor, que é fonte de força, deve prevalecer.
Em conclusão, podemos afirmar que a centralidade da Palavra de Deus neste texto é clara: ela é a base da vida comunitária e espiritual do povo. A resposta reverente do povo diante da Palavra e a alegria que decorre de sua compreensão da Lei indicam a necessidade de uma constante renovação espiritual, especialmente após tempos de crise ou afastamento de Deus. Para os cristãos de hoje, este episódio de Neemias 8 oferece um modelo de como receber e vivenciar a Palavra de Deus. O entusiasmo e a reverência do povo diante da Lei de Deus nos convidam a refletir sobre a nossa própria relação com as Escrituras. Quando ouvimos a Palavra, somos chamados a ouvi-la com um coração aberto e disposto à conversão.