SEXTA-FEIRA, TEMPO DO NATAL, ANTES DA EPIFANIA
Minha prezada irmã, meu prezado irmão. Em mais um dia do tempo do Natal, antes da Festa da Epifania, escutamos outro trecho da Primeira Carta de São João, 2,29-3,6. O texto aprofunda a reflexão sobre a identidade dos filhos de Deus e as implicações éticas e espirituais dessa filiação. O que ouvimos conecta a prática da justiça com a condição de pertencimento a Deus, enfatizando a transformação moral e espiritual que resulta de estar em comunhão com Ele. São João aborda a oposição entre pecado e filiação divina, exortando os cristãos a viverem em coerência com sua nova identidade.
No versículo 2,29, São João afirma que a prática da justiça é uma evidência de que alguém nasceu de Deus. A justiça aqui refere-se não apenas a ações corretas, mas a uma vida orientada pela vontade de Deus. Nascer de Deus implica uma nova identidade e uma transformação interior que se manifesta no agir. O capítulo 3, versículo 1 destaca o amor do Pai como a fonte dessa filiação divina: os cristãos são chamados filhos de Deus, não por mérito próprio, mas pelo dom gratuito de Deus. Essa realidade é tão extraordinária que o “mundo” não a reconhece, pois também não conhece a Deus. Essa rejeição sublinha o contraste entre a comunidade cristã e o sistema de valores do mundo.
No capítulo 3, versículo 2, São João projeta a plenitude da filiação divina na esperança escatológica. Embora os cristãos já sejam filhos de Deus, o que serão na totalidade ainda não se manifestou. A visão de Deus “como Ele é” na parusia será o momento culminante dessa transformação, quando os fiéis se tornarão plenamente semelhantes a Ele. No versículo seguinte, afirma que essa esperança tem implicações práticas: quem espera por essa realização purifica-se, buscando viver em santidade, assim como Deus é santo. A esperança cristã, portanto, não é passiva, mas dinamiza uma vida de crescimento espiritual.
No capítulo 3, versículo 4, São João contrasta a prática do pecado com a justiça. O pecado é definido como rebeldia contra a lei divina. Essa oposição entre pecado e justiça reflete a incompatibilidade entre o estado de pecado e a filiação divina. Nos versículos 5-6 seguintes, São João recorda que Jesus veio para tirar os pecados e que nele não há pecado. Permanecer em Cristo significa evitar o pecado e viver de acordo com a nova identidade como filhos de Deus. Quem continua pecando demonstra que não conheceu verdadeiramente Jesus, pois o conhecimento de Cristo implica transformação de vida.
Esse texto convida os cristãos a refletirem sobre sua identidade como filhos de Deus, chamados a viver em santidade e justiça. Reconhecer-se amado pelo Pai deve inspirar uma vida coerente com essa filiação, caracterizada pela rejeição do pecado e pela busca de uma relação cada vez mais profunda com Cristo. A esperança na visão plena de Deus é um convite à purificação contínua, lembrando-nos de que a santidade é tanto um dom quanto uma tarefa. Nos dias atuais, viver como filhos de Deus significa testemunhar o amor divino em um mundo que muitas vezes desconhece ou rejeita essa realidade.