Há um ano o Brasil convive com a pandemia do coronavírus que já ceifou em nosso país quase 280 mil vidas e já infectou mais de 11,5 milhões de pessoas. É neste ambiente, chamado de “novo normal” por muitas pessoas, que a evangelização também precisa acontecer. De modo presencial estamos limitados. Então, o que fazer? “A mudança de mentalidade e compreensão de que todo espaço, presencial ou virtual, é lugar de evangelização é fundamental”, afirmou, em entrevista ao Jornal Encontro Semanal, o padre Manoel de Oliveira Filho, da Arquidiocese de Salvador (BA), graduado em História, com experiência em Teologia e ênfase em Teologia Pastoral.
De acordo com o sacerdote, isso não é simples de acontecer, mas é necessário. Para isso, precisamos nos preparar e sermos criativos. A comunicação nesse novo ambiente é indispensável. “Está provada a importância da Pastoral da Comunicação, uma comunicação articulada e em rede, usando de todos os elementos. Mas é importante salientar a relevância de cada pessoa se sentir protagonista nesse processo”, explicou. Uma comunicação articulada requer sair da comodidade e enfrentar os desafios.

O mundo híbrido, presencial e remoto, deverá continuar mesmo após a pandemia. A Igreja estar próxima das pessoas neste novo ambiente é um desafio que precisa se tornar comum, na visão do padre. Em palestra aos coordenadores regionais e diocesanos de pastorais e movimentos do Regional Centro-Oeste da CNBB, ele destacou: “o mundo a que assistimos agora e no tempo pós-pandêmico será presencial e remoto com todos os seus limites, mas também cheio de possibilidades. Limitado porque teremos que nos adaptar às diversas realidades e com possibilidades porque alcançaremos muito mais pessoas”. A cultura do encontro, um grande tema do pontificado do papa Francisco, conforme lembrou o padre, precisa ser bastante explorado pela Igreja. “Nossas paróquias precisam chegar à realidade do outro, isso é, tomar iniciativa. É a misericórdia que vai à miséria do outro. O que estamos vendo é um profetismo. Francisco anteviu o que estava por vir, por isso precisamos retomar o magistério dele, que apontou caminhos para o que estamos vivendo. São cruciais para nós as sustentabilidades econômica e ecológica.”
Caminhos da evangelização
Padre Manoel Filho elencou três caminhos bastante necessários neste novo tempo em que vivemos e que a Igreja precisa estar bastante atenta para podermos dar passos no processo de evangelização em tempo de pandemia. “Não há receita, mas existem três coisas que, ao meu ver, são essenciais.”
- Criar formas de proximidade, por mais paradoxal que seja falar nisso;
- Avançar no “Continente Digital”, como nos pedia o papa Bento XVI;
- Aprimorar a caridade em nossa vida pessoal e comunitária.

O medo deste “novo mundo” existe e a tentação da letargia pastoral, de não fazer nada também, conforme salientou padre Manoel. Ele ressaltou, porém, que “precisamos nos ajudar e não desanimar diante dos desafios, fazer o que for possível, mas fazer”. Tudo é novo para todos e mudanças que deveriam acontecer em 20, 30 anos aconteceram agora. Confiar em Deus, contudo, é fundamental. “Não estamos sozinhos. O Espírito Santo, que acompanhou a Igreja em todas as mudanças de época, continua nos inspirando.” Questionado sobre onde mora a criatividade pastoral em um tempo como este em que não há igrejas abertas e, quando há, elas estão abertas apenas para orações pessoais ou celebrações com poucas pessoas, ele respondeu: “mora na vida de oração, na abertura às moções do Espírito e no desejo de dar respostas novas a novas perguntas. Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a dar respostas novas a novas perguntas. Saberemos, aliás, já estamos sabendo dar esse salto”, afirmou.
Finalmente, padre Manoel indicou que neste tempo de pandemia deve se sobressair a Igreja em processo, em caminho, isto é, a Igreja que está em construção com toda a dinâmica do caminho com suas incertezas e contradições. Segundo ele, entender que somos povo a caminho faz toda a diferença nas práticas pastorais deste tempo. “O principal eixo da evangelização é a proximidade.” Em sua palestra ao Regional Centro-Oeste, ele explicou: “Jesus olhava as pessoas, estava com elas. Não há necessidade maior de evangelização que a proximidade”. Ele ressaltou que as prioridades pastorais precisam mudar. “Somos povo de Deus, não massa. A evangelização precisa tocar na individualidade das pessoas.” Para isso, as estruturas da Igreja também são importantes. “As estruturas são necessárias, elas também são a Igreja. É preciso saber usar as estruturas para ir além das estruturas. Içar as âncoras e avançar.” Neste processo, um grande tema do pontificado do papa Francisco nos ajuda a colocar isso em prática. “Como em todo o seu pontificado, a solidariedade com quem sofre, o olhar que contempla a história com olhar de eternidade se fazem necessários.”
Fúlvio Costa