Todos os meses, o papa Francisco exprime por meio da oração as suas grandes preocupações pela humanidade e pela missão da Igreja. A sua intenção de oração mensal é confiada à Rede Mundial de Oração. Com a iniciativa, ele faz um chamamento universal para que transformemos nossas orações em gestos concretos. Assim, oração e ação são propostas do Santo Padre para que o mundo seja mais humano, fraterno e solidário.
Neste mês de fevereiro, a intenção de oração do papa é pelas mulheres vítimas de violência. Em sua mensagem, divulgada na última semana em vídeo, Francisco lembra que “hoje, ainda existem mulheres que sofrem violência. Violência psicológica, violência verbal, violência física, violência sexual. O número de mulheres espancadas, ofendidas e violadas é impressionante”. E continua: “As diversas formas de maus-tratos que muitas mulheres sofrem são uma covardia e uma degradação para toda a humanidade. Para os homens e para toda humanidade”.
O chamado feminicídio ou femicídio é, de fato, um mal que causa estragos na sociedade. Dados do Ministério da Saúde, de fevereiro de 2020, dão conta que a cada quatro minutos uma mulher é agredida por um homem no Brasil. Pior ainda, essa violência é cometida, na maioria das vezes, por um homem conhecido. Dois anos antes, em 2018, foram registrados 145 mil agressões contra mulher no Brasil das mais diversas formas: física, psicológica, sexual, ou uma combinação delas.

O que nós, cristãos, e toda a sociedade podemos fazer diante de tão triste situação? Ainda em vídeo, o papa destaca: “Os testemunhos das vítimas que se atrevem a quebrar o silêncio são um grito de socorro que não podemos ignorar. Não podemos olhar para o outro lado”.
Para falar sobre o assunto, entrevistamos Cybelle Silva Tristão, delegada regional de Aparecida de Goiânia, que falou sobre esse tipo de violência e explicou como a sociedade pode agir, seja em seu bairro, rua ou dentro da própria família. Cybelle afirmou que nos últimos anos tem havido crescimento considerável no número de agressões às mulheres e ressaltou aquilo que disse o papa em seu vídeo: “esse tipo de violência tem aumentado, sobretudo porque ele não é apenas físico, mas se desdobra em diferentes formas. Nós temos a violência psicológica, a violência sexual, a violência patrimonial e a violência física. O ápice é o crime de feminicídio, que é justamente quando a mulher perde a vida por conta de um ato praticado pelo agressor”, disse.
Segundo ela, a Polícia Civil do Estado de Goiás tem acompanhado esse aumento de violência não só contra a mulher, mas, também, nas suas mais diversas vertentes: contra a criança e o adolescente e contra idosos. No país, estados e municípios desenvolvem políticas públicas com o objetivo de conscientizar a população. Cybelle Tristão lembrou de um projeto desenvolvido um ano antes do início da pandemia que se chamava Lei Maria da Penha nas Escolas. “O projeto visava conscientizar educadores para que eles trabalhassem esse tema nas escolas. Então, apesar de assistirmos um aumento nos índices, enxergamos também ações para poder combater essa violência”, afirmou.
A delegada confirmou que durante a pandemia tem havido um aumento ainda maior de violência contra as mulheres, crianças e idosos, ocasionada, sobretudo, pelo maior tempo de convivência das famílias dentro dos lares e porque as pessoas têm medo de sair de casa devido à disseminação do coronavírus. Para combater a violência contra a mulher, conforme Cybelle, a sociedade tem papel fundamental e a denúncia é o melhor caminho. “Às vezes você sabe que a vizinha está sofrendo violência, mas não denuncia. Nós temos canais diretos para isso: o Disk 180 para violência contra a mulher e o Disk Denúncia da Polícia Civil, que é o 197”.

Mais crimes contra a mulher
• Xingar
• Impedir de ir e vir
• Proibir de usar determinado tipo de roupas ou esmaltes nas unhas ou de cortar os cabelos
Detecção da violência contra a mulher
Identificar mulheres que são violentadas não é fácil. A maioria tem vergonha de relatar, outras querem passar uma imagem de família feliz para a sociedade. Muitas, porém, vivem um verdadeiro filme de terror, conforme relatou a entrevistada. “Observar não é fácil e, às vezes, vamos identificar nos mínimos detalhes: a vizinha já não está mais aparecendo na porta de casa; dentro da família começa a haver a ausência de alguém que não comparece mais na casa de outro familiar, ou não comparece às reuniões familiares para esconder uma lesão. São sinais que podemos perceber muito sutilmente, isso porque a mulher vai tentar esconder que está sendo violentada justamente por vergonha e, por medo, elas acabam não relatando o seu sofrimento, nem mesmo para uma amiga, pessoa próxima ou familiar”.
Ao contribuir na identificação dos casos contra a mulher, a sociedade ajuda a não perpetuar mais um tipo de violência. Além da identificação de violência por parte das pessoas, é indispensável a contribuição de quem está sofrendo na pele as agressões. “A mulher violentada precisa entender que quanto mais precoce for a denúncia, mais fácil é estirpá-la da sociedade. Isso porque trata-se de um ciclo que tende a aumentar. A violência verbal evolui para a violência física, podendo chegar ao ápice, o feminicídio. Feita a denúncia, logo nos primeiros sinais, a polícia terá mais possibilidades para atuar e para punir o agressor”, completou Cybelle.
O papa Francisco, ao final do seu vídeo, pede orações pelas mulheres violentadas. “Rezemos pelas mulheres que são vítimas de violência, para que sejam protegidas pela sociedade e o seu sofrimento seja considerado e escutado por todos”. Clique e assista o vídeo.
Fúlvio Costa