Série Oração do Cristão

Comunhão Espiritual: “desejo de receber a Jesus Sacramentado e em dar-lhe um amoroso abraço, como se já o tivéssemos recebido”

Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. (1Cor 1,9)

Desde o início do ano de 2020 o mundo sofre com os efeitos da pandemia. Por vezes, os fiéis com doenças crônicas têm ficado em casa, restringindo, quando possível, várias atividades cotidianas, entre elas a maior das atividades de um cristão católico, a participação presencial na Santa Missa. Por não receber a Eucaristia, muitos fiéis têm buscado aproximar na intimidade com Jesus Eucaristia através da Comunhão Espiritual.

O objetivo da reflexão não é discutir a validade ou licitude da oração da Comunhão Espiritual em casos específicos como, segunda união, divorciados, ou ainda, se o fiel estiver vivendo em estado de pecado mortal. Para assuntos mais complexos procure seu pároco, podendo ter a possibilidade de tratarmos do assunto em outro momento.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar” (CIC, 27).

A comunhão espiritual é verdadeiramente um caminho e um ato de desejo interior que o fiel tem em receber a Sagrada Eucaristia, mas não o pode fazer devido a situações de força maior. As celebrações eucarísticas não foram proibidas neste período de pandemia, nem o podem ser, entretanto, foi privado, por vezes, a possibilidade de os fiéis participarem de forma presencial nas Igrejas. Os sacerdotes rezam todos os dias a Santa Missa, ainda que em sine populo (sem povo), em intenção de todo o povo de Deus, garantindo assim, que todos os dias tenhamos a comunhão sacramental com Jesus nosso Senhor e Rei.

Através da Comunhão Espiritual, esse desejo de Deus que está inscrito no coração do homem é saciado, acontece aí um diálogo amoroso em que o homem suplica a Deus seu desejo de receber as graças do céu para que o mantenha sempre em comunhão com a Trindade Santa, mesmo não tendo possibilidade, no determinado momento, de receber Jesus Eucaristia.

Uma oração voltada a uma honrada Comunhão Espiritual já se faz presente na vida da Igreja há vários séculos e muitos santos recomendaram tal exercício de fé, como: São Tomás de Aquino, São João Maria Vianney, Santo Afonso de Ligório, São João Paulo II, entre outros. Se “O homem é feito para viver em comunhão com Deus, no qual encontra sua felicidade” (CIC, 45), a Comunhão Espiritual é uma via válida para que possamos acolher Jesus, pelo menos espiritualmente, quando não é possível sacramentalmente.

Santo Afonso é um dos santos mais populares do século XVIII, Bispo e Doutor da Igreja, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas) e foi autor de uma das orações mais conhecidas e rezadas pela Igreja sobre a Comunhão Espiritual:

“Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-Vos sobre todas as coisas e minha alma suspira por Vós. Mas como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, ao meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me inteiramente a Vós. Ah! Não permitais, Senhor, que eu me separe de Vós! Ó, sumo bem e doce amor meu, inflamai o meu coração, a fim de que esteja abrasado em Vosso amor para sempre. Amém! Ficai conosco, Senhor, aquecei a nossa esperança e fortalecei a nossa fé!”

É importante relembrar da exortação eucarística de São Paulo: “Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação” (1 Cor 10,24; 27-29). Nesse sentido, não é conveniente que queira trocar a Comunhão Eucarística pela Comunhão Espiritual. Para aqueles que podem participar da Santa Missa e receber a Eucaristia, devem fazer de todo coração, de toda alma e com toda as suas forças.

Pe. Vilmar Barreto