Você está em:
02/02/2024
Mensagem Pastoral 2024
MENSAGEM PASTORAL AO POVO DE DEUS DA ARQUIDIOCESE DE GOIÂNIA
por ocasião da abertura do Ano Pastoral 2024
“Seus olhos se abriram, reconheceram-no ao partir o pão e se tornaram testemunhas d’Ele” (cf. Lc 24, 31).
Amados irmãos e amadas irmãs,
Com o coração repleto de esperanças, dirijo-lhes esta mensagem pastoral com o intuito de propor a todo o Povo de Deus da Arquidiocese de Goiânia as principais perspectivas evangelizadoras para o ano pastoral 2024. Quero, antes de tudo, agradecer a adesão de Dom Levi Bonatto, dos padres e diáconos, dos consagrados e consagradas, dos leigos e leigas, às propostas da organização pastoral da Arquidiocese na reconfiguração dos vicariatos ambientais e territoriais, da reorganização das foranias, da nova dinâmica das reuniões mensais de pastoral, da constituição e atuação de diferentes conselhos. Não apenas o número de pessoas alcançadas mais que triplicou, mas sobretudo processos foram desencadeados para valorizar a participação e qualificar o sentido de pertença e de serviço à Igreja de Goiânia, processos que precisarão de continuidade no correr deste ano.
O balanço do ano 2023 foi muito positivo. Avaliações realizadas com os presbíteros e com os participantes da reunião mensal de novembro passado apontaram para um novo vigor pastoral, apresentaram sugestões e pontuaram lacunas e necessários ajustes que serão considerados para as diversas iniciativas pastorais. A escuta tem sido uma riqueza de nossa ação e um exercício que nos coloca a todos como aprendizes. É, sem dúvida, expressão viva de sinodalidade.
Falávamos, na mensagem do ano passado, da necessidade de “reorganizar para melhor servir”. Demos muitos passos. Mas estou ciente do quanto precisamos melhorar nossa dinâmica pastoral. Precisamos alcançar um modo de nos organizarmos que responda aos desafios de nosso tempo: acolhida e inclusão, comunicação em rede, agilidade nas respostas, valorização da diversidade, identificação de desgastes e de potencialidades, coragem de ousar e de decidir. Evitemos cair na tentação de trabalhar isoladamente. Precisamos exercitar a comunhão e a participação. Valorizemos o sentido e o espírito de equipe em todos os nossos projetos.
1. A diocese como Povo de Deus.
Neste horizonte, recordo a todos o que disse o Concílio Vaticano II, no Decreto Christus Dominus nº 11, quando definiu a diocese como “a porção do Povo de Deus, que se confia a um Bispo para que a apascente com a colaboração do presbitério, de tal modo que, unida ao seu pastor e reunida por ele no Espírito Santo por meio do Evangelho e da Eucaristia, constitui uma Igreja particular, na qual está e opera a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica”. Com essas palavras, o magistério do Concílio Vaticano II destaca a importância do “povo de Deus” na compreensão do que é a (arqui)diocese. Mais do que estruturas, uma diocese se identifica pelo povo de batizados que. unido ao seu pastor (bispo) e reunido pelo Espírito Santo por meio do Evangelho e da Eucaristia. vive a experiência de ser a Igreja de Cristo como Igreja una, santa, católica e apostólica.
Exorto a todos os fiéis católicos para que fiquem atentos aos ensinamentos do Concílio Vaticano II, fiel à tradição, e se disponham a viver a fé católica, respeitando a diversidade dos dons e carismas e colaborando cada dia na edificação da Igreja de Cristo. Valorizem-se nas diferentes instâncias da Arquidiocese a constituição e o funcionamento dos “conselhos”. Permitam-me dar um exemplo do ministério do bispo. Como arcebispo, não posso pastorear/governar a Arquidiocese sem os conselhos. E são diversos: Colégio de Consultores, Conselho Arquidiocesano de Pastoral, Conselho Presbiteral, Conselho de Formação, Conselho Arquidiocesano para Assuntos Econômicos e outros. Também nas outras instâncias é fundamental o exercício de comunhão e participação por meio dos conselhos. Não se pode mais aceitar na Igreja conselhos fictícios ou o exercício da autoridade que prescinda da escuta e da participação, especialmente da grande maioria do Povo de Deus, que são os leigos e leigas.
O Serviço de Promoção da Sinodalidade (SPS), já constituído e pronto para atuar, muito nos ajudará na compreensão, valorização e funcionamento dos diferentes conselhos, sinal de uma Igreja viva, de comunhão e participação, em sintonia com a eclesiologia conciliar do Povo de Deus.
2. A Assembleia Arquidiocesana de Iniciação à Vida Cristã.
Muitos passos estão sendo dados para a realização da Assembleia Arquidiocesana de Iniciação à Vida Cristã, por nós convocada, em novembro passado, com o objetivo de elaborarmos o projeto arquidiocesano de Iniciação à Vida Cristã.
Nós, bispos do Brasil, em maio de 2017, aprovamos o documento “Iniciação à vida cristã: itinerário para formar discípulos missionários”, texto conhecido como Documento 107 da CNBB. Nele se pode ler no parágrafo 138: “Para responder aos desafios da evangelização, principalmente na transmissão da fé cristã, é fundamental ter um projeto diocesano de Iniciação à Vida Cristã, através do qual seja possível promover a renovação das comunidades paroquiais. Não se trata de fazer apenas ‘reformas’ na catequese, mas de rever toda a ação pastoral, a partir da Iniciação à Vida Cristã”.
E, ainda, no parágrafo 140: “O projeto reunirá forças, aprofundará estudos e traçará linhas de ação para a diocese. Ele precisa ser proposto às comunidades, avaliado e aprovado com a participação dos catequistas, agentes de pastoral, dos líderes paroquiais, dos consagrados e dos ministros ordenados para poder ser assumido por todos”.
Tendo presente essas indicações e, ao escutar perguntas sobre a organização da catequese na Arquidiocese, ao perceber diferentes experiências em curso, ao reconhecer o empenho e o zelo de centenas de catequistas, ao detectar o interesse de muitas famílias por uma catequese sólida, ao ver muitos de nossos padres se empenhando no investimento e no acompanhamento da catequese e, também, ao identificar lacunas que precisam ser preenchidas com claras diretrizes, decidi pela realização de uma Assembleia Arquidiocesana de Iniciação à Vida Cristã. A metodologia da Assembleia supõe longa preparação e envolvimento de grande número de pessoas. A assembleia é para nós um exercício de sinodalidade. Queremos juntos chegar ao consenso de Diretrizes Arquidiocesanas para a Catequese de Iniciação à vida Cristã.
Quero insistir com todos os membros de nossa Arquidiocese que se sintam convocados a participar intensamente do caminho da Assembleia, para que em setembro de 2024, precisamente nos dias 7 e 8, tenhamos uma experiência eclesial que marcará o futuro da evangelização em nossa Arquidiocese. Peço o empenho de todos para que participem nas diferentes instâncias do censo catequético e dos encontros de preparação da Assembleia em sua Paróquia, que serão indicados pelos(as) animadores(as) dentro do processo que já está em curso.
Sejamos dóceis ao Espírito do Senhor, que nos falará pelas Escrituras, na voz das comunidades e dos(as) delegados(as) para a Assembleia. Reitero o que já disse: os párocos e administradores paroquiais reservem integralmente os dias 7 e 8 de setembro deste ano para participarem integralmente da Assembleia. Que toda nossa Arquidiocese possa dizer uníssona como disse Nossa Senhora: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (cf. Lc 1, 38).
3. O encontro com o Senhor na Palavra
O texto inspirador para todo o processo da Assembleia é tomado do evangelho de São Lucas. Trata-se do relato conhecido como “discípulos de Emaús” (Lc 24, 13-35). Depois de percorrerem a estrada de Jerusalém a Emaús, acompanhados pelo Ressuscitado sem reconhecê-lo, os dois discípulos, com seus corações ardentes, convidam aquele “forasteiro” para permanecer com eles. Em casa, à mesa, quando Jesus mesmo partiu o pão. Os discípulos, com olhos abertos pela fé, reconheceram-no. Retornam correndo à Jerusalém para anunciar o encontro com o Ressuscitado. Tornam-se testemunhas d’Ele. Os discípulos fizeram uma experiência única de encontro que muda radicalmente suas vidas. O testemunho deles fortalece a comunidade eclesial que nasce da fé em Jesus Cristo, vencedor da morte e doador da vida eterna.
Essa experiência faz recordar outra cena de parecido teor. Dessa vez, segundo o evangelista São João, o testemunho de uma mulher, que se encontra com Jesus à beira do poço de Sicar (Jo 4, 1-42). Ali, o Senhor inicia um diálogo que terá seu auge na revelação de sua identidade: o Messias “sou eu que falo contigo”. E ela põe-se a correr em direção à cidade para anunciar a todos: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não seria ele o Cristo?” O resultado é que as pessoas saem da cidade e vão ao encontro de Jesus. Aquela mulher fez uma experiência que mudou sua vida. E começou a dar testemunho do seu encontro com Jesus, instigando outros que fossem ao encontro d’Ele.
Também o evangelista São João, ao narrar o chamado dos primeiros discípulos (Jo 1, 35-51), conta-nos que dois discípulos de João Batista ouviram falar de Jesus e foram ao seu encontro. Depois de terem ido e de terem permanecido com o Senhor, eles retornaram. Um deles é André, irmão de Simão. André não apenas fala de Jesus a Simão, mas o conduz até Jesus. Filipe fará o mesmo em relação à Natanael, anunciando-lhe: “Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas...”.
Estamos diante de três fortes referências do Novo Testamento a nos confirmarem que o verdadeiro encontro com o Senhor resulta em adesão (seguimento/discipulado) e em anúncio (testemunho/missionário). Inspirados nestes textos, afirmamos a importância de uma catequese que favoreça o encontro com a pessoa de Jesus Cristo por meio da Palavra, dos Sacramentos e da Vida em Comunidade. Essa tarefa não é apenas da catequese, mas de todas as expressões da missão da Igreja. A força do evangelho é esta: um encontro com Jesus Cristo que dá sentido à nossa vida e por ele começamos a viver de modo novo, nova relação com o Pai e o Espírito Santo, nova relação com os irmãos e irmãs, com todos os desdobramentos de empenho em favor da fraternidade e da amizade social, nova relação com a casa Comum. Um encontro que significa conversão, caminho de vida nova. Um encontro que nos aponta o caminho da vida eterna, do Reino definitivo. O cristão maduro na fé desperta nos outros o desejo de conhecer, amar e seguir Jesus.
4. Juventude e vocações
Tendo diante dos olhos a necessidade de um testemunho que desperte novos seguidores de Jesus, vem em meu coração uma palavra sobre os jovens. É possível reconhecer na Arquidiocese de Goiânia a presença muito bonita de jovens nas paróquias, movimentos, novas comunidades e serviços eclesiais. Há testemunhos vivos de adesão à fé e de seguimento de Jesus. Muitos exemplos dessa pertença podem ser elencados. A Lectio Divina durante o período quaresmal é um dos muitos sinais do quanto os jovens querem estar nas comunidades e desejam participar. Não são poucos os que se perguntam: Senhor, que queres de mim? Também nas redes sociais os jovens não se envergonham do Evangelho de Jesus Cristo.
Ao mesmo tempo, percebe-se a necessidade de organizar melhor o acompanhamento das juventudes. Os grandes eventos são importantes, especialmente quando alcançam a linguagem própria dos jovens. Carecemos, no entanto, de um pastoreio dedicado aos nossos jovens de modo permanente e atento às suas demandas mais profundas. Queremos unir esforços do Setor Juventude e da Pastoral Vocacional Arquidiocesana e de outras expressões eclesiais para acompanhá-los. Ilumina-nos a palavra do Papa Francisco quando se refere ao ministério do bispo junto ao povo: “Para isso, às vezes pôr-se-á à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa e, em certas circunstâncias, deverá caminhar atrás do povo, para ajudar aqueles que se atrasaram e sobretudo porque o próprio rebanho possui o olfato para encontrar novas estradas” (Evangelii gaudium 31). Como é importante esse discernimento quando se trata de acompanhar a juventude e saber em que lugar nos colocamos em cada etapa do caminho com os jovens.
Mas quero, também, dirigir uma palavra especial aos jovens e às jovens de nossa Arquidiocese: sei que vocês têm muitos sonhos e estão cheios de energia para viver com jovialidade seus projetos, seus estudos, seus trabalhos; para aproveitarem as oportunidades e recursos deste tempo; para lutarem por conquistas na busca da vida feliz; para um itinerário de namoro e de matrimônio. Tudo isso é muito bom! Saibam, também, que a vida consagrada e a vida sacerdotal são escolhas maravilhosas para viver em plenitude junto a Cristo e junto às pessoas. Ser religioso(a) é muito bom! Ser padre é muito bom. Não tenham medo de se arriscar por encontrar a felicidade, orientando suas vidas para uma especial consagração. Deixem emergir aquela pergunta que os leva até à direção espiritual, pela escuta de pessoas amadurecidas na fé, para um caminho de discernimento. Nossa Igreja precisa de jovens que abracem a vida consagrada e o sacerdócio e nos ajudem a renová-la para que seja sempre mais fiel a Nosso Senhor Jesus Cristo. Em nossas comunidades, vamos manter as orações pelas vocações.
5. A Pastoral do Dízimo
Quero, ainda que brevemente, tratar de outro assunto muito concreto. A real necessidade de manutenção dos projetos eclesiais supõe o custeio de ministros ordenados, da formação presbiteral, da formação do laicato, da remuneração de colaboradores contratados, do custeio de nossas estruturas, igrejas, centros pastorais, serviços de comunicação e de secretaria e muito mais. Todo o movimento financeiro das comunidades, paróquias e da arquidiocese está sujeito à prestação de contas à Receita Federal. Todos os funcionários devem estar devidamente contratados e com todos os seus direitos em dia. As contas com os serviços públicos precisam ser pagas.
A Cúria Metropolitana, enquanto estrutura central, presta um importante serviço, colaborando diretamente com o bispo no governo da Arquidiocese, principalmente na animação da pastoral e do zelo na administração. Todas as estruturas da Cúria estão a serviço de nossas paróquias e comunidades. Além disso, a Cúria também auxilia financeiramente a manutenção de algumas instâncias mais carentes, na expansão da evangelização em setores ainda não alcançados e na promoção das atividades pastorais que ocorrem em nível arquidiocesano.
Toda essa estrutura é mantida pela entrega de 10% das entradas paroquiais, incluídas as festas e outras promoções. Por isso, é muito importante a transparência na prestação de contas e a fidelidade na entrega do que é devido à Cúria e das coletas que devem ser repassadas (Evangelização, Solidariedade, Lugares Santos, Domingo do Bom Pastor, Óbolo de São Pedro, Seminário Santa Cruz, Missões).
Por tudo isso, urge o empenho de todos na promoção do dízimo, entendido como “contribuição sistemática e periódica dos fiéis, por meio da qual cada comunidade assume corresponsavelmente sua sustentação e a da Igreja. O dízimo pressupõe pessoas evangelizadas e comprometidas com a evangelização” (Doc. 106 da CNBB, nº 6). Convoco toda a Arquidiocese de Goiânia a dedicar esforços na organização da Pastoral do Dízimo, fonte primeira e principal para a manutenção da nossa Igreja, desde as pequenas comunidades até os serviços diocesanos. O apoio do Serviço de Promoção do Dízimo será muito importante para que em todas as nossas comunidades estabeleça esta forma sistemática de manutenção.
6. Rumo ao Jubileu do Ano 2025
Já está anunciado o Jubileu do Ano 2025, cujo lema é “Peregrinos da Esperança”. O Papa Francisco nos pediu para preparar-nos para o Jubileu, dedicando-nos ao estudo das quatro constituições do Concílio Vaticano II (Dei Verbum, Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium e Gaudium et Spes). Também dedicou o ano de 2024 à Oração. Uma Comissão Arquidiocesana própria para o Jubileu haverá de propor atividades tanto para o estudo das constituições quanto para a animação das muitas modalidades de oração na Igreja. A Festa do Divino Pai Eterno de 2024 terá como tema: “Pai Eterno, a Vós, nossa oração”. Em cada dia se meditará uma pequena parte da oração que Jesus nos ensinou.
Destaco alguns eventos de especial importância para a Arquidiocese em 2024: a Lectio Divina com os jovens nos sábados da quaresma; o Caminho das Sete Igrejas, em 16 de março; o Muticom Arquidiocesano, em 4 de maio; o Totus Tuus, em 25 de maio; Corpus Christi, a ser realizado mais uma vez por paróquias; a Missão Jovem, em julho; o Congresso Arquidiocesano das Famílias, em 18 de agosto; o Encontro Jubilar da Renovação Carismática Católica de Goiânia, nos dia 31 de agosto e 1º de setembro; a Assembleia Arquidiocesana de Iniciação à Vida Cristã, nos dias 7 e 8 de setembro; o Dia Nacional da Juventude, em 20 de outubro.
Esses eventos estão vinculados e articulados a processos de evangelização. Haverá outros eventos e atividades que estão no calendário arquidiocesano, disponível e atualizado no site da Arquidiocese (www.arquidiocesedegoiania.org.br).
Ao finalizar esta mensagem pastoral, renovo o compromisso de amar e servir esta Arquidiocese. O Senhor nos conceda a graça de muitos colaboradores na missão. Agradeço mais uma vez a adesão de todos ao caminho que apontamos para a Arquidiocese. Rogo à Nossa Senhora Auxiliadora que nos acompanhe em nossos sonhos e trabalhos, em nossos empreendimentos e desafios. Seja 2024 um ano pastoral de muitos frutos pessoais e eclesiais. Sejamos todos promotores da comunhão e da participação, qual belo testemunho de uma Igreja sinodal.
Sejamos todos discípulos missionários!
+ João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Metropolitano
03.02.2024