Saudações efusivas aos Irmãos e irmãs, familiares e amigos de várias partes do Brasil, especialmente os da Diocese São Luís de Montes, que nos acompanham pela PUC TV e pela TV Pai Eterno.
Caríssimos irmãos e irmãs da Arquidiocese de Goiânia, presentes aqui na Catedral – Nossa Senhora Auxiliadora, para juntos agradecermos e glorificarmos a Deus pela Sua ação na vida da nossa Igreja nestas primeiras duas décadas do 3º Milênio.
Não desejo fazer nenhum balanço do meu pastoreio. Deixo isso ao juízo do bom Deus e da história. Desejo única e simplesmente render-lhe o culto de adoração e de um coração agradecido.
A gratidão nos faz mais parecidos com Deus porque manifesta que podemos ser gratuitos e livres, assim como Deus é.
Para este altar trazemos o caminho que juntos percorremos, de forma sinodal, durante quase 20 anos, mais precisamente 19 anos e sete meses. Nossa memória carrega consigo mil lembranças; nosso coração traz muitas emoções e sentimentos, experimentados diante de tantas alegrias e dos muitos desafios enfrentados.
A virtude da gratidão é tão elevada e tão bonita que faz enxergar o próprio coração de Deus.
Ela tem suas raízes quando, desde toda a eternidade, o Filho de Deus, sendo gerado pelo Pai, não só recebeu todo o amor paterno, mas devolveu ao Pai o mesmo amor na sua totalidade infinita. E é este amor, o Espírito Santo, “que procede do Pai e do Filho”, que sobre todos nós é continuamente derramado. A virtude da Gratidão também nos move a devolver, na mesma medida, o amor recebido.
A ação de graças, por excelência, dá-se, de modo sublime e eloquente, na celebração eucarística.
A Igreja encontra o sentido último de sua convocação na vida de oração, de louvor e de ação de graças, que o céu e a terra dirigem a Deus por “suas grandes e maravilhosas obras” (Ap 15,3). Por isso, com humildade e amor, unido a cada um de vocês, subo outra vez ao altar desta Catedral, para agradecer, pela longa jornada que tive a graça de viver nesta nossa querida Arquidiocese de Goiânia.
A primeira leitura que ouvimos é uma resposta de Deus, narrada pelo profeta Joel, ante o flagelo das pragas dos gafanhotos e da seca. No texto, relatam-se, primeiramente, as lamentações do povo. Em seguida, vem a resposta de Deus com o chamado à conversão e à penitência coletiva. Foi esta liturgia penitencial que provocou o coração de Deus, fazendo com que Ele se enchesse de zelo pela terra e tivesse piedade de seu povo, Israel. Eis a grande graça que a Igreja traz em si, como comunidade daqueles que invocam a Deus.
Com a Oração da Igreja, Deus enche-se de zelo para com todo o povo e o Seu braço forte nos conduz.
Por isso, estamos alegres. Nosso coração está cheio do desejo de proclamar as grandes graças que o Senhor realizou em nossas vidas pessoais, de modo particular, em minha vida, em todos estes anos de pastoreio.
“Deus fez por nós grandes coisas”.
Esta alegria agradecida também traz consigo uma disposição penitencial, pois nem sempre acertamos tudo, nem fizemos tudo aquilo que era necessário! Porém, fizemos aquilo que estava ao nosso alcance e o fizemos com amor.
O salmo 126, que cantamos nesta liturgia, exalta a alegria dos que semearam entre lágrimas. Recorda a história do povo de Israel, feito cativo, que volta à terra prometida.
Caminhamos rumo à Jerusalém Celeste, o céu, nossa Pátria Definitiva.
Que o Senhor restaure as nossas forças, da mesma forma que Ele enche os leitos dos rios nos desertos.
O texto faz parte dos chamados “cânticos para as subidas”, entoados pelos peregrinos que se colocavam a caminho de Jerusalém. Também nós, hoje, somos peregrinos. Caminhamos rumo à Jerusalém Celeste, o céu, nossa Pátria Definitiva.
Recebi, ontem, o último livro, “Il Paradiso”, lançado pelo Pe. Lívio Fanzaga, fundador da Rádio Maria World Family.
Li apenas a introdução, que me fez fazer um profundo exame de consciência, quando afirma (abre aspas):
“Considerada a centralidade do Paraíso, causa maravilha a pouca presença desta temática na teologia, na catequese e na pregação. A nossa geração navega entre as águas do mundo, distraída pelo efêmero, esquecendo o eterno. Urge testemunhar a vida eterna, que Jesus por sua paixão, morte e ressurreição, trouxe ao mundo.
Testemunhar a vida eterna é a maior obra de misericórdia que se possa fazer à humanidade de hoje, que corre para lá e para cá, como formigas enlouquecidas, no grande formigueiro do mundo.
Sem o paraíso que coisa seria a terra senão um imenso e impiedoso cemitério?” (fecha aspas).
Nesta nossa peregrinação, com o auxílio de Nossa Senhora e sob seu olhar maternal, são inevitáveis as dores da semeadura. O caminho da missão tantas vezes é árduo.
Muitas vezes, na travessia de nossos desertos existenciais, restavam apenas as próprias lágrimas, para regar as sementes que eram lançadas nos terrenos áridos e ressequidos.
A Igreja continuará semeando Cristo, a Boa-Nova da alegria, mesmo entre lágrimas, mas com permanente e renovada esperança.
Como é bela a pedagogia divina do caminho. Jesus continua conosco! Ele passa por nossas vidas, chama-nos e envia-nos! Ele dispõe a sua Igreja de diversos serviços e ministérios.
Um dia, passou também lá em Itabuna/BA, chamou-me, ainda adolescente, apesar de não apresentar todas as exigências para entrar no Seminário Menor. São Paulo da Cruz me recebeu em sua Congregação, a Congregação da Paixão ou Passionistas. Sou-lhe filialmente agradecido. O tempo passou e eis que também a mim, no caminho do discipulado missionário, foi confiado o ministério episcopal, antes na jamais esquecida Diocese de São Luís de Montes Belos e, depois, aqui na Arquidiocese de Goiânia.
No dia maio 9 de maio próximo, completarei 35 anos de episcopado.
Foi preciso aqui chegar e, com vocês, continuar a semeadura do Reino, entre lágrimas e esperanças.
O Evangelho, que nos foi proclamado nesta celebração, revela a graça de Deus, que atua enquanto se caminha. Enquanto estavam caminhando, no transcurso de uma peregrinação para se apresentarem aos sacerdotes do Templo, os leprosos foram purificados e curados.
Isso nos mostra que o Caminho, em si, é redentor, pois nele está aquele “misterioso Caminheiro” que, com os discípulos, seguia rumo a Emaús, rumo à casa da Eucaristia, onde Ele partiu o pão e onde os olhos dos discípulos se abriram.
São Paulo recomenda – como ouvimos na segunda leitura – que, onde quer que estejamos, ergamos nossas mãos agradecidas ao Pai.
E assim devemos fazer – ensina-nos o apóstolo missionário – sem a mancha do ódio, do desentendimento ou de qualquer ressentimento.
Interessante essa relação que Paulo estabelece entre o gesto de ação de graças e a comunhão fraterna que deve marcar a vida comunitária, a relação entre as pessoas, desprovida de qualquer contenda. Ao longo destes quase 20 anos de pastoreio, tantas vezes pude experimentar as alegrias e os desafios da comunhão fraterna. O bispo preside a caridade e deve ser o primeiro a testemunhá-la, inclusive com o reconhecimento de seus limites humanos, diante das exigências do amor fraterno que é o que identifica o corpo místico de Cristo: “Nisto todos conhecerão que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros assim como Eu vos amei”.
Peço perdão a Deus por ter amado e servido tão pouco. Tanto bem poderia ter sido feito e tenho consciência de que não o fiz. Mas esse não é o fim da história!
Apenas é mais uma fase que se encerra, com um percurso que conseguimos caminhar. Outras fases virão, com novas possibilidades e novos desafios. E, assim, a nossa querida Igreja, sempre conduzida pelo próprio Jesus, continuará caminhando, respeitosa ao seu passado e, sobretudo, atenta ao seu futuro!
Faço grata memória de Dom Emanuel Gomes, então arcebispo de Goiás, que, como bom discípulo de Dom Bosco, trabalhou incansavelmente pela educação, espalhando escolas por todo o nosso estado, inclusive faculdades de ensino superior, que se tornaram a base para a fundação da Universidade Católica de Goiás. Dom Emanuel trabalhou também pela saúde, reunindo forças para a fundação da Santa Casa de Goiânia.
Quando aqui cheguei, não vim traçar uma nova linha pastoral para a Arquidiocese, rompendo com o seu passado. Apenas continuei o ingente trabalho pastoral dos meus dois antecessores: Dom Fernando Gomes dos Santos, o arcebispo pioneiro e, após o falecimento dele, Dom Antonio Ribeiro de Oliveira, que já havia sido bispo auxiliar durante parte do tempo de governo pastoral de Dom Fernando e que o sucedeu no governo apostólico. Ambos estão sepultados nesta Catedral. A caminhada da Igreja nos pede continuidade, procurando enfrentar com criatividade e altivez a cada trecho do caminho. Todo caminho tem condições e situações diferentes a serem percorridas.
Há trechos do caminho mais fáceis e outros mais difíceis. Há diversos contextos para se caminhar, para os quais é preciso se inserir e se reinventar.
Mas o caminho da Igreja deve ser continuado, na unidade de pessoas e de tempos, na generosidade e na disposição de servir, sempre atentos à semeadura do Reino e caminhando com perseverança rumo ao Reino definitivo.
Sou muito grato ao Dom Fernando e ao Dom Antonio pelo empenho de suas vidas, pela firme resposta ao chamado de Deus para a vida sacerdotal e para o ministério episcopal, nas diversas missões que a Igreja, pelo Santo Padre, lhes confiou.
Também agradeço de coração aos três bispos auxiliares que ao longo destes anos Deus me deu: o primeiro, Dom Waldemar Passini Dalbello; o segundo, Dom Levi Bonatto, aqui presente ao meu lado; e o terceiro, Dom Moacir Silva Arantes. Os três, cada um ao seu modo, foram os meus mais estreitos colaboradores na missão que Deus me confiou.
Agradeço aos padres de nossa Arquidiocese, vivos ou já falecidos. Impossível nominá-los. Para mim foram verdadeiros Cireneus que colocaram seus ombros, sua vida sacerdotal, seus dons para ajudar a carregar a cruz da missão apostólica.
Em particular, faço especial menção aos formadores dos nossos Seminários, aos seminaristas da Arquidiocese e de outras Dioceses, que juntos se formam no nosso Seminário Interdiocesano; aos responsáveis pelos Vicariatos e pela Coordenação do Clero e da Pastoral Arquidiocesana, sobretudo “aos trabalhadores da primeira hora”.
A eles peço perdão pelas falhas e, como irmão, no mesmo e único sacerdócio, sou feliz por termos caminhado juntos, na unidade da mesma missão, ainda que sob diferentes responsabilidades.
Além do perdão pelas minhas falhas, peço, sobretudo, as suas orações pela minha permanente conversão e santificação.
Mesmo com as fragilidades e os erros, confiei e confio no Crucificado pedindo que Ele complete a sua obra.
Aos diáconos permanentes, colaboradores do Arcebispo, atuando junto aos párocos e administradores paroquiais, bem como às suas esposas e filhos, quero também deixar minha profunda gratidão por todo o empenho em tornar a Igreja presente, pelo testemunho da caridade, nas mais diferentes realidades de nossa Arquidiocese; mas também acompanhando as famílias e com elas celebrando a Palavra, o Batismo, as Exéquias e formando-as no ensinamento da Igreja. Dos 52 ordenados quatro faleceram. Lembro com gratidão os Diáconos Humberto Gusmão dos Santos Botelho, Oscar Barbosa Damasceno, Ademar Gomes de Araújo e Amauri Rodrigo de Sousa Junior, falecido no dia 23 de janeiro deste ano.
Aos irmãos e irmãs da Vida Consagrada, minha gratidão pessoal, pela vocação vivida segundo o próprio carisma. Obrigado pela sua presença em nossa Arquidiocese, em tantas frentes de missão, em nossas paróquias e comunidades, em nossas instituições diversas. Obrigado pela evangelização das crianças, dos jovens, dos adultos e dos idosos e pelo amoroso cuidado para com todos.
Obrigado aos leigos e leigas. São um verdadeiro exército, um número incontável de homens e mulheres, de jovens, adolescentes e de crianças, que se envolveram na missão pastoral, nas cidades e no campo e, que, no exercício do seu sacerdócio batismal, também trabalharam comigo, com os padres, com os diáconos e com os membros da vida consagrada, para que o Evangelho fosse anunciado, para que a Eucaristia e os demais Sacramentos fossem bem celebrados, para que as famílias fossem santificadas, para que tantos encontrassem na Igreja as portas abertas e um espírito de amoroso acolhimento para que suas vidas tivessem um novo significado verdadeiramente pascal.
Obrigado aos leigos e leigas dos Movimentos Eclesiais, das Pastorais e das nossas Instituições diversas: das Escolas Católicas, da Pontifícia Universidade Católica, da Santa Casa de Misericórdia, das obras sociais, dos meios de comunicação, dos movimentos sociais e em todos os lugares onde, por meio de vocês, a luz de Cristo transforma a realidade e anuncia a Esperança a que todos fomos chamados.
Obrigado àqueles que, exercendo os poderes públicos, colaboraram para que tantos problemas e situações apresentadas pelo Arcebispo fossem encaminhados ou solucionados, sobretudo no que tange a justiça social e o comprometimento com os mais pobres.
A nossa vida cotidiana, como batizados em Cristo, deve se tornar uma autêntica ação de graças a Deus, uma permanente e agradável oferenda ao Senhor.
E de nossos lábios, mesmo diante das dificuldades, dos momentos complicados pelos quais a pessoa humana passa, é preciso saber dizer palavras que brotam de um coração agradecido.
Obrigado, Senhor. Obrigado, Pai querido, pela vida que recebi de vossas mãos misericordiosas, através dos meus saudosos pais.
Obrigado, Senhor, pela honra e cruz que me destes para amadurecer em meio às alegrias e vicissitudes que comportam o ministério episcopal.
Obrigado, Senhor, por tantas vocações despertadas, por tantos ministérios exercidos, por tantas bênçãos derramadas sobre todos nós. Louvo, Senhor, por todo o empenho amoroso de toda a Igreja Arquidiocesana, que se manteve fiel ao tesouro recebido da Fé.
Louvado sejais, Deus, pelos imensos benefícios que nos fizestes. Louvado sejais, Deus, pela vida que procede de vossas mãos. Rendamos graças a Deus porque eterna é a sua misericórdia por nós.
Nossa Senhora Auxiliadora, a quem me consagrei no dia em que assumi esta Arquidiocese, e que nunca me deixou sozinho, auxilie e guarde no seu coração materno o nosso novo Arcebispo, Dom João Justino de Medeiros Silva. Que sobre ele desçam as luzes do Espírito Santo e se cumpram os desígnios de Deus.
Queridos irmãos e irmãs, muito obrigado pela convivência que tive com vocês. Vou levá-los para sempre em meu coração! Rezem por mim, para que continue fiel até o fim. E fiquem sempre com Deus, que os ama e os quer felizes. Concluo esta homilia citando um versículo do livro de Tobias 12,7: “É bom manter oculto o segredo do rei; porém, é justo revelar e publicar as obras de Deus”.
Por tudo, Deus seja louvado. Amém!
Goiânia, 1º de fevereiro de 2022.
Dom Washington Cruz
Administrador apostólico de Goiânia