SÁBADO DA 1ª SEMANA DA QUARESMA
Minha irmã, meu irmão, neste sábado da primeira semana da quaresma escutamos um trecho do livro do Deuteronômio, precisamente 26,16-19. O texto pertence à conclusão da grande seção legislativa do livro do Deuteronômio. Ele apresenta uma renovação do compromisso entre Deus e Israel, reforçando a aliança e as bênçãos que dela decorrem. Essa passagem sublinha a obediência à Lei como resposta ao amor e à eleição divina, ao mesmo tempo que destaca a identidade do povo como propriedade especial de Deus.
a) Chamado à obediência (v. 16). “Hoje o Senhor, teu Deus, te ordena cumprir estes estatutos e normas. Tu os guardarás e cumprirás com todo o teu coração e com toda a tua alma”. A expressão “hoje” ressalta a urgência e a atualidade da aliança. O povo de Israel é chamado a observar a Lei “com todo o coração e com toda a alma”, uma linguagem que lembra o Shemá Israel (Dt 6,4-5), destacando que a obediência não deve ser apenas externa, mas fruto de um compromisso interior e sincero.
b) A resposta do povo: reconhecimento de Deus como Senhor (v. 17). “Hoje declaraste que o Senhor será teu Deus, para que andes em seus caminhos, guardes seus estatutos, seus mandamentos e seus decretos, e obedeças à sua voz”. Aqui, Israel reafirma sua escolha de Deus como seu único Senhor. A aliança não é uma imposição unilateral, mas um compromisso mútuo. Seguir os mandamentos é um sinal de fidelidade e amor, não apenas de submissão legalista.
c) A resposta de Deus: Israel como povo eleito (vv. 18-19). “E o Senhor declarou hoje que tu serás para ele um povo próprio, como te disse, e que deverás guardar todos os seus mandamentos”. A expressão “povo próprio” (‘am segullá’ em hebraico) indica a eleição especial de Israel. Essa eleição, porém, não é privilégio isolado, mas vocação para viver a santidade e a justiça. “Ele te elevará em honra, fama e glória acima de todas as nações que fez, para que sejas um povo santo para o Senhor, teu Deus, como ele disse”. A santidade de Israel não se fundamenta apenas em sua escolha divina, mas na observância da Lei. A distinção do povo não é motivo de orgulho nacionalista, mas de responsabilidade: Israel deve ser um modelo para as outras nações, testemunhando a justiça de Deus no mundo.
Este trecho nos recorda que a relação com Deus não se baseia apenas em rituais ou tradições, mas em um compromisso pessoal e comunitário de fidelidade. Assim como Israel foi chamado a ser um “povo santo”, os cristãos são chamados a viver segundo a santidade de Deus (cf. 1Pd 2,9). *** Jesus, no Evangelho, retoma essa ideia ao afirmar: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,14), ou seja, os seguidores de Cristo devem testemunhar a justiça e o amor de Deus. A aliança continua válida, mas agora se cumpre plenamente em Cristo, que não veio abolir a Lei, mas levá-la à plenitude (cf. Mt 5,17). Portanto, este texto nos convida a viver nossa fé com autenticidade, respondendo ao chamado de Deus com um coração sincero e colocando em prática seus ensinamentos em nosso cotidiano.