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19/07/2019
E o Verbo se fez rede
“Igreja tem dado respostas à altura das exigências dos processos comunicacionais da atualidade”, segundo pesquisador
O “E Verbo se fez rede: religiosidades em reconstrução no ambiente digital” é o título do livro do jornalista e pesquisador Moisés Sbardelotto, um dos conferencistas do 11º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom 2019), que começou nesta quinta-feira (18) e segue até domingo (21), na Cidade da Comunhão – Centro Pastoral Dom Fernando (CPDF), em Goiânia.
A partir do conteúdo do livro, Sbardelotto apresentou, na manhã desta sexta-feira (19), a Conferência “O Verbo se fez rede”, na qual ele declarou que “a Igreja tem dado respostas à altura das exigências dos processos comunicacionais da atualidade”. Para justificar sua afirmação, ele apresentou o que chamou de processo de “reforma digital” que vem sendo implementado pela Igreja Católica gradativamente.
Com São João Paulo II foi dado o primeiro passo nesse sentido rumo à reforma digital. Em sua Mensagem para o 36º Dia Mundial das Comunicações Sociais, de 2002, ele tratou da importância da internet para a evangelização. O tema da mensagem foi “Internet: um novo foro para a proclamação do Evangelho”. Em 2009, foi a vez do papa Bento XVI falar sobre a promoção de uma cultura de respeito, de diálogo e de amizade a partir das novas tecnologias que direcionam para novas relações. “Com Bento XVI a Igreja desperta para uma nova maneira de aprender a pensar a fé, o mundo e as relações sociais”, comentou Moisés em sua conferência. O papa Bento voltou a falar de novas tecnologias nos anos seguintes até 2013 quando ele abordou o tema “Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização”.
Sbardelotto comentou que é com Bento XVI que a Igreja repensa seus processos comunicacionais e ingressa de vez no mundo das novas tecnologias. Ele é o primeiro pontífice a usar o twitter e também a direcionar a comunicação da Santa Sé para o mundo externo, isto é, a utilizar a internet para comunicar a vida da Igreja para além dos meios tradicionais. Para isso ele criou o site News.Va, que já não existe mais. “Ele foi o responsável por aproximar a Igreja da cultura e a promover o diálogo entre fé e cultura”, disse Moisés.
A comunicação da Igreja no pontificado do papa Francisco
Na prática, os meios de comunicação da Santa Sé, sobretudo na internet, foram repaginados pelo papa Francisco. Conforme Sbardelotto, se antes Rádio Vaticano direcionava seu trabalho por uma direção e o site News.Va para outra e os demais meios seguiam também seu caminho independente, mas com Francisco eles foram unificados e nasceu o site Vatican News que agregou rádio, impresso e redes sociais. No âmbito das redes sociais, Francisco passou a utilizar a conta criada por Bento XVI, no Twitter, @pontifex. Criou também a primeira conta pontifícia no Instagram e passou a produzir vídeos para o Youtube. Mais recentemente lançou o aplicativo Click to play, que é um perfil de oração do papa. Tudo isso tem um significado muito importante para a Igreja e para a sociedade, conforme o conferencista explicou. “Hoje, a conta no Twitter do papa é a segunda mais seguida, atrás somente da conta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Então, a voz do papa nas redes sociais tem um peso muito grande na sociedade atual. Mais do que isso, a Igreja tem trazido para dentro o que já está na cultura externa, isto é, há uma apropriação dos processos comunicacionais que tem um significado muito importante: continuar fiel a si mesma, à missão dada por Jesus respondendo às exigências da atualidade”. Nesse cenário, os comunicadores da Igreja têm uma responsabilidade que deve ser considerada. “Não podemos ser comunicadores sectários, mas que comunica para todos; precisamos respeitar o próximo independente de quem ele seja e devemos testemunhar com coerência as nossas escolhas”. Sobre este último ponto, ele lembrou uma fala do papa Francisco. “O testemunho cristão não se faz com bombardeio de mensagens religiosas. Devemos ter consciência que a comunicação local é fundamental e testemunhar com outros temas e outros olhares para além do religioso também é importante”, concluiu.
Fúlvio Costa