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27/03/2019
Oração, Jejum e Caridade
Atitudes que nos aproximam da misericórdia do Pai

A experiência da liturgia nos permite viver a fé de forma ordenada, percorrendo um caminho em que é possível compreender de maneira plena o mistério da salvação. Esse itinerário é visível nos tempos litúrgicos que, didaticamente, nos conduzem por um caminho de oração. Para cada momento forte da expressão do amor incondicional de Deus por nós, temos um período que nos prepara para celebrar este mistério a partir de textos bíblicos, símbolos, sinais, gestos e ações concretas.
Este tempo quaresmal se caracteriza pelo apelo à conversão que nos remete ao nosso batismo: primeiro passo que damos em direção a uma vida segundo a vontade do Pai. “Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei- -vos e crede na boa nova” (Mc 1,15). O apelo à conversão é um ressoar constante na nossa vida. De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC, 1435), “A conversão se realiza na vida cotidiana por meio de gestos de reconciliação, do cuidado com os pobres, do exercício e da defesa da justiça e do direito, pela confissão das faltas aos irmãos; pela correção fraterna, pela revisão da vida, pelo exame de consciência, pela direção espiritual, pela aceitação dos sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua cruz, cada dia, seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitência”.
Para que esse caminho de preparação seja vivido de maneira a contribuir com a nossa conversão, a Igreja nos propõe três ações concretas que norteiam o percurso, são elas: oração, jejum e caridade. O apelo às práticas penitenciais tem o objetivo de promover no cristão uma revisão de vida que leve à conversão, a uma mudança interior que alcance o exterior na prática cotidiana. A oração nos permite alcançar maior intimidade com Deus e compreender o sentido da nossa vida, nos fortalece na fé e nos encoraja para os desafios da vida.
O jejum, a privação de alimento ou bebida trata-se de um ato de fé e notável humildade. Jesus jejuou quarenta dias e quarenta noites (cf. Mt 4,2). A prática do jejum nos aproxima da experiência de Jesus, da solidão do deserto. O jejum nos remete à solidão das nossas vidas, das nossas fraquezas, que são fortalecidas pela meditação que essa experiência pode nos proporcionar.
A prática da caridade nos leva a aproximar da necessidade do outro, a partilhar a dor do irmão que, muitas vezes, é também a nossa dor. Essa aproximação nos torna mais empáticos, resgatando a nossa humanidade e nos aproximando mais da primeira identidade que fomos criados: imagem e semelhança de Deus.
Viver profundamente o tempo quaresmal é estar em busca constante pela conversão que se concretiza por mudanças de atitudes, reconhecendo a nossa fraqueza diante dos desafios da vida, reconhecendo que não somos autossuficientes e que dependemos da misericórdia de Deus para alcançar na vida a graça da plenitude. Converter, voltar atrás, reconhecer-se pecador e clamar pelo amor misericordioso de Deus são atitudes esperadas do cristão.
Que este tempo de preparação para a Páscoa do Senhor possa despertar em nós o desejo e a coragem de viver o jejum e a caridade, que promova a defesa da vida, que nos aproxime dos mais necessitados como sinal de esperança para aqueles que se encontram oprimidos. Que, por esse itinerário, possamos ser sinal do amor de Deus por meio de nossos gestos de cuidado, paciência e tolerância com nossos irmãos.
Que a alegria da ressureição nos encontre plenos de misericórdia para com o próximo, para que, assim, possamos ser também alcançados pela amor misericordioso de Deus.
Denise Maria de Jesus
Teóloga, pedagoga e psicopedagoga
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