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17/02/2025
TESTEMUNHO DA LUZ – DIA 18 DE FEVEREIRO DE 2025

TERÇA-FEIRA DA 6ª SEMANA DO TEMPO COMUM
Minha querida irmã, meu querido irmão. A primeira leitura de hoje é formada por uma seleção de versículos dos capítulos seis e sete do livro de Gênesis. O relato do dilúvio, presente nos capítulos 6 a 9 do Gênesis, faz parte da tradição das origens da humanidade. Sua composição reflete influências de relatos mesopotâmicos antigos, como a Epopeia de Gilgamesh, mas com uma reinterpretação teológica própria. A narrativa insere-se dentro da estrutura dos chamados “primeiros ciclos” do Gênesis (Gn 1-11), que abordam a criação, a corrupção da humanidade e os atos divinos de juízo e salvação.
O texto inicia com uma descrição sombria da humanidade: “O Senhor viu que havia crescido a maldade do homem na terra, e como os projetos do seu coração tendiam sempre para o mal” (v. 5). Esse versículo enfatiza a universalidade do pecado, apontando para uma corrupção moral e espiritual generalizada. O termo hebraico ra'ah, traduzido como maldade", implica uma perversão profunda, não apenas de atos, mas também da intenção do coração. *** Diante dessa degradação, Deus “se arrependeu de ter feito o homem” (v. 6). Esse antropomorfismo expressa a justiça e a santidade divinas, que não podem tolerar a contínua perversão humana. No entanto, Noé “encontrou graça aos olhos do Senhor” (v. 8), demonstrando a tensão entre juízo e misericórdia.
A ordem para Noé entrar na arca com sua família e os animais ressalta a distinção entre o justo e os pecadores. Noé é chamado de “justo” (tzaddiq, em hebraico), evidenciando sua fidelidade a Deus. O número de animais mencionados (sete pares dos puros e um par dos impuros) reflete preocupações rituais posteriores, sugerindo a interligação entre pureza e culto. A repetição do motivo da obediência de Noé (vv. 5.9.16) destaca a fidelidade como chave para a salvação. O dilúvio é apresentado como um retorno ao caos pré-criação (cf. Gn 1,2), sublinhando o tema da recriação e renovação.
O versículo 10 marca a concretização do juízo divino: “Passados sete dias, as águas do dilúvio vieram sobre a terra”. O número sete pode simbolizar a plenitude do tempo de preparação. A “água” na tradição bíblica pode representar destruição e purificação ao mesmo tempo (cf. Ex 14,21-22; Sl 69,2-3), antecipando o simbolismo batismal do Novo Testamento (cf. 1Pd 3,20-21).
O relato do dilúvio contém uma profunda mensagem teológica sobre o pecado, o juízo e a misericórdia de Deus. A corrupção da humanidade leva a uma resposta divina que não é apenas destrutiva, mas também regeneradora. A figura de Noé prefigura a salvação oferecida àqueles que vivem segundo a vontade divina. No contexto cristão, o dilúvio é frequentemente associado ao batismo, onde a água não apenas destrói o pecado, mas inaugura uma nova criação (cf. Rm 6,3-4). A obediência de Noé nos convida a confiar e seguir a vontade de Deus, mesmo quando os desafios da vida parecem insuperáveis. Hoje, essa passagem nos desafia a refletir sobre a nossa responsabilidade diante da corrupção e da injustiça no mundo. Deus continua a chamar seus fiéis a serem justos e obedientes, garantindo que, apesar das tempestades, há sempre um caminho de salvação preparado para aqueles que confiam nele.